quarta-feira, 1 de março de 2017

O acosso: a violência "democrática"





Por José Manuel Barbosa



De todos é conhecida a circunstância da existência de ambientes laborais ou sociais difíceis por falta de harmonia ou por que há alguém que difunde ideias contrárias à verdade contra certas pessoas pelo simples feito de ser diferente dos demais, sendo esta diferença por razões múltiplas. São estes os rumores que nunca são saudáveis para as pessoas que o sofrem, nem para o ambiente laboral ou social, nem finalmente para quem leva a cabo esta prática nociva a qual acaba voltando-se contra quem a pratica se o ofendido for o suficientemente inteligente e forte como para reagir em consequência e adequadamente.

Na maior parte dos casos, os rumores nunca são contrastados e nunca são objetivos. Sempre atendem aos baixos sentimentos e baixos instintos de inveja, medo, neurose, angústia, frustração, inseguranças e altas doses de violência reprimida originadas nas misérias humanas que na maior parte dos casos fazem ou fizeram parte da vida dos agressores. Todo isto é transmitido com malícia contra pessoas de valor, fazendo destas pessoas indivíduos feridos e em muitos casos solitários com uma vulnerabilidade importante.
O objetivo que um terapeuta pode perceber na pessoa que pratica o rumor é tirar fora do corpo a sua frustração reprimida, às vezes dando-se a si próprio uma imagem de pessoa perfeita como forma de defesa e para evitar a crítica dos outros. Mas de cara a fora o ofensor tem como fim intimidar, submeter, acovardar e impedir que a sua vítima possa exprimir os seus valores e as suas capacidades as quais sempre são uma ameaça muito grande para a auto-estima do primeiro. O poder esconso do agressor favorece a sua tomada de poder perante o agredido, que justamente por causa de essa falta de manifestação clara do assaltante, não sabe ou não pode defender-se adequadamente, perdendo credibilidade aos olhos do público.
Este tipo de agressores são difíceis de evitar, embora se precisarem altas doses de paciência, no melhor dos casos. Muito comummente a indisciplina e a rebeldia contra o atacante são inviáveis ou simplesmente inúteis, especialmente se este é uma pessoa com poder laboral, social ou político, com certa credibilidade no ambiente que o rodeia, o qual torna em contraproducente qualquer tipo de resistência ao mal. Se o agredido tomar como estratégia a mesma forma de comportamento crítico contra o seu ofensor, independentemente se esta é real ou não, a pessoa atacada vai favorecer a credibilidade do malvado que pode ver-se acrescentada entre o público observador, pois normalmente a sua imagem é pulcra nas formas protegendo a sua imagem real de sujidade moral. Deste jeito o bom acaba aparecendo como mau e o mau acaba sendo bem considerado por todos como se realmente fosse ele o agredido. O mundo ao revés e a transparência do assunto sofrendo graças à habilidade do perverso bem-vestido.

Uma outra solução é falar com alguém que esteja laboral ou social por cima do agressor ou mesmo com parte do público que poderia compreender a injustiça. Neste tipo de casos as pessoas recorridas para a ajuda vão ter dificuldade para discernir quem é realmente o malfeitor e quem o injuriado. Se a pessoa ou pessoas consultadas tiverem em boa consideração o acossador, cousa provável pela habilidade do psicopata, o pedido de ajuda pode-se converter em uma arma de duplo gume para quem realmente precisar a ajuda, por isso a desesperação não é de muita utilidade. Este comportamento de defesa pode ser um argumento para que o maldoso, tranquilo ele no seu posto de poder, argua que a sua vítima está doente ou algo é que lhe acontece ao pobre incauto. Talvez com um bom conselho paternal de acudir a um bom médico dos nervos, psicologista ou psiquiatra acrescentaria a sua boa imagem... e todos veriam como uma muito boa pessoa que responde com paternalismo a uma feia atitude de alguém que parece estar desequilibrado... e na realidade só se quer defender.
Com certeza, o facto de poder desvendar o problema é uma necessidade imperiosa para o agredido. Talvez evidenciando o problema com humor e ironia, tirando-lhe importância. Ora, se o agressor se sente descoberto ou o problema transcende fora do controlo do insano assaltante, o assunto poderia mesmo acabar muito mal para quem pratica a ironia, a qual nem sempre senta bem a quem a ouve porque toca onde dói; como também pode acabar mal para ambas as partes... Mas a necessidade é que não acabe mal para o que sofre o acosso que é realmente quem não merece esta situação. Talvez se der a circunstância de chegar-se a um ponto de tamanho dano e afronta que a pessoa isolada acabar realmente precisando ajuda médica, caindo na paranóia, na insânia e no desatino. Se isso for assim é que a finalidade do instigador cumpre os seus objetivos últimos.
Mas há ainda uma terceira via. Esta seria se o agredido se fizer muito rígido na sua vida diária, no trabalho e na vida pessoal, com o fim de esquivar as mentiras que sobre ele se dizem. Um deverá renunciar a muitas cousas que a pessoa do comum tem como normais e constitutivas da sua liberdade. Deverá ser uma vida de virtude que contraste com a ideia lançada pelo malvado ofensor e que este fique em evidência para a gente que rodeia a ambos, mas isto supõe uma importante deterioração pelo excesso de coerência, pelas renúncias por um rígido uso da paciência que pode levar mesmo à doença e à falta de liberdade. Se nos remetermos à história, veremos que são os grandes homens e grandes mulheres cuja vida é um modelo para a sociedade os que levaram este tipo de vida paradigmática, muitas vezes sem eles quererem, acossados por uma situação política, social, religiosa, bélica e de perseguição. Todos temos exemplos na nossa cabeça: presos políticos e de consciência, lutadores pela justiça e a liberdade, heterodoxos que acabam sendo eliminados, santificados ou quase divinizados, perseguidos de todo tipo....A sua força e a sua vontade de não se renderem perante a injustiça, a maldade ou simplesmente contra a mentira que suja a sua imagem, não deixa lugar para outra saída diferente de aquela que vai acabar fazendo dele um pessoa destacada e virtuosa, prodigiosa e perfeita, às vezes contra a sua própria vontade. A maior acosso histórico maior ressalto histórico e a necessidade de apagamento do seu pensamento por parte dos inquisidores converte-se finalmente em uma situação de destaque nunca pensada por quem quis reprimir o seu pensamento.


No mundo no que vivemos, em luta constante entre os poderosos e os que não têm mais poder do que a sua força pessoal e individual, a perseguição faz-se fundamentalmente por motivos ideológicos. O elemento ideológico é que precisam manter interiormente à vez que necessitam ocultar interiormente sem este ser evidente de cara ao exterior. As razões desta discrição são, para os agredidos, evitar as ameaças e os ataques pessoais, evitar a perda do seu trabalho, do prestígio pessoal ou evitar o vilipêndio político público como tem sido em alguns casos. Este tem sido historicamente e ainda é em alguns caos o de muitos reintegracionistas que exercem o seu labor docente e devem ensinar “galego”.... tentando equilibrar coerência e liberdade de cátedra com "profissionalismo". Em alguns casos às vezes em nada ilegais, a administração nunca se implica com o acosso nem com o acossado mas sim implica outros agentes sociais como as associações de pais ou as filiações políticas de alguns deles. Nestes casos aproveita-se a falta de conhecimento sobre o assunto e em muitos casos a falta de formação de muitos deles, encirrando-os para o desordem e às vezes para exercerem a violência não necessariamente física, embora sim psicológica. A administração neste casos não tem vontade de aplicar medidas pacificadoras nem conciliadoras voltando-se repentinamente muito "liberal" no seu "laissez faire..." e reivindicando a liberdade, mas dos agressores. A evidência do pensamento sócio-cultural ou político de algumas pessoas podem dar pé a ataques importantes que se em alguns casos são facilmente desmontáveis, em outros, mais difíceis, acabam por gerar ações pré-democráticas ou mesmo condutas que poderíamos reconhecer na Alemanha dos anos 30, chegando ao ponto de comportamentos delituosos por parte das administrações. A habilidade exercida desde os escritórios faz desviar os ataques para além do que publicamente não se pode atacar, mas destina as energias a outros aspectos mais sensíveis e vulneráveis, já não laborais ou profissionais mas pessoais.
Tradicionalmente a melhor defesa tem sido a agrupação de interessados para defender direitos pessoais, deveres legais e dignidades, mas na Galiza de finais do XX e começos do XXI não há associação sindical, social ou política que aceite facilmente este tipo de pugnas democráticas sob pena de cair na marginalização política. O objetivo por parte da administração sempre é evitar a posta em evidência do problema na sociedade, que também historicamente acaba implicando ao público e desvendando a terrível injustiça da realidade galega, sem forças políticas reais que defendam uma prática comum em todo o mundo civilizado. Esta administração prefere sacrificar o bem-estar e a prosperidade dos galegos antes do que ceder perante problemas que na realidade não são problemas, mas oportunidades de progresso e de crescimento social e individual.

Quando este tipo de acossos é tão grande e tão invisível que não pode ser possível descobrir o malvado rosto do agressor, individual, coletivo ou administrativo, o melhor é mudar para uma atividade laboral que não implique qualquer tipo de compromisso mas na Galiza temos um grave obstáculo, também criado pela própria administração, não sabemos se por inépcia ou pelo interesse de construir uma sociedade à imagem e semelhança dos falsos "democratas" que exercem o poder. Este dirigismo desmontaria a falácia da suposta sociedade plural e ideologicamente livre na que vivemos e aliás a falsidade do suposto pensamento partidário liberal que é como se auto-definem os nossos eternos governantes. A este grave problema de modelo social, acrescenta-se a grande rigidez laboral e a da dificuldade para mudar de emprego ou para auto-empregar-se. Portanto, são a imigração e/ou desemprego armas que a administração usa contra os dissidentes. Sair adiante é muito difícil em uma estrutura administrativa tão rígida e tão excludente como é a do Reino da Espanha, onde a Galiza está imersa e submersa, daí a ampla hostilidade que tem esta armação estadual tão artificial e incómoda em contextos como o basco ou o catalão onde a oposição a esta situação e a este construto é muito grande. 

Na Galiza existe também esta oposição, mas é desfavorecida por várias razões: A primeira é o abuso de poder, que leva à manipulação informativa e à corrução, derivando no voto do medo, no voto manipulado e no pagamento de favores; a segunda razão é a falta de adequação e de inteligência das organizações que se dizem alternativas ou opositoras que nunca tiveram vocação de governo nem estratégia para chegar a ele. 
O impossível caminho da prosperidade está obstaculizado pelos partidos governantes. De entre eles estão os que têm a responsabilidade de gerir a administração. Estes gerem para guiar e moldar a sociedade seguindo parâmetros quase soviéticos, corporativistas, rígidos e sem qualquer dúvida estatistas, longe dos preceitos “liberais” que dizem seguir. Outros, os que se dizem alternativos ou opositores, regidos por preceitos dogmáticos e declaradamente defensores, igualmente, de uma rigidez ideológica grande que chega ao absolutismo administrativo em alguns casos e à exclusão das disidências. Nesse contexto a dificuldade dos heterodoxos para achar trabalho, a facilidade para emigrar e as situações de acosso estão relacionadas entre si diretamente. Esta situação de abuso de poder favorece os acossos contra os que legitimamente pensam diferente da estreita ortodoxia que impõe um poder político e nacionalitário que se diz democrático mas que só se pode definir assim nas aparências e que em pouco se parece aos modelos políticos do resto dos Estados civilizados europeus onde após se livrarem do autoritarismo durante o S. XX, ficaram na gaveta da História.
O rumor é fácil contra os dissidentes. Todos eles são maus por definição e estes não têm muita viabilidade de que a sua contestação chegue aonde tem de chegar. O rumor têm um fácil caminho de rosas que fere a boa imagem das pessoas que sofrem no silêncio social os estigmas do menosprezo e a falta de liberdade. As suas imagens são cozinhadas convenientemente nos escritórios da nova inquisição espanhola que nunca deixou de existir e que de nova tem pouco ou nada.


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