domingo, 27 de julho de 2014

Sobre o Natalício de Jesus de Nazaré




Por José Manuel Barbosa

As datas do Natal são as festas nas que o Cristianismo comemora o nascimento do seu fundador. Jesus de Nazaré, nascido segundo a oficialidade católica a noite do 24 para o 25 de Dezembro, 2015 anos atrás.
Mas a data do nascimento de Jesus é discutida por muitos historiadores e mesmo dentro do próprio cristianismo há posicionamentos diferentes entre os que salientamos a ortodoxia oriental e o cristianismo arménio que mantêm o dia 6 de Janeiro como data em questão.
Para chegarem os cristãos à uma conclusão como esta houve que passar-se por muitas investigações, sobre tudo por aquelas nas que o dogma ainda não estava consolidado tendo em conta que antes do século IV não era este tema o mais importante de todos nos que se debatia a igreja.

Pela terceira centúria da nossa era, momento em que o cristianismo começava a adquirir certo poder social no Império Romano, chegaram-se a propor diferentes datas, todas elas tendo por base os Evangelhos: O 6 de maio, o 10 de maio, o 20 de maio, 25 de maio, proposto este com alguns razoamentos lógicos por Clemente de Alexandria, o 25 de março, o 15 de abril, o 20 de abril, o 25 de abril, outubro, dezembro, janeiro.... Mesmo, uma vez consolidadas as igrejas orientais, os arménios adaptaram sincreticamente costumes autótones e decidiram que a data devia ser o 8 de janeiro.
A proliferação de datas fez com que os Papas se cansassem de tantas elucubrações inúteis até que finalmente o Papa São Fabiano proibiu continuar especulando no que diz respeito, tanto mais quanto que a maioria dos investigadores cristãos optavam por datas de começo do inverno por razões políticas, enquanto São Lucas no seu Evangelho (Lc. 2,8) afirmava:

“Havia uns pastores por aquela mesma região que passavam a noite ao ar, vigiando por turno o seu rebanho...”

Nesta citação na que se narra a anunciação do nascimento de Jesus aos pastores fala-se de que dormiam baixo o céu, o que não poderiam fazer nos meses do começo do inverno, justo quando mais frio faz na Palestina, país mediterrâneo mas que não se livra do inverno que pode moderar-se a finais de fevereiro e começos de março.
A Palestina nos tempos dos Herodes
Ao final, havia mais de 130 datas diferentes e todas elas mais ou menos válidas. Isto fez com que no Concílio de Niceia propõe-se o que mais tarde aceitariam os Papas Júlio I e Libério, que foi a consideração da data do 24 e 25 de dezembro como data chave, justo quando os romanos celebravam o Natalis Solis Invictis e os cristãos não puderam sincretizar. Alguns autores afirmam que anos atrás, quando as perseguições de Diocleciano, Décio e Valério Valente os cristãos faziam as suas festas nessas datas porque passavam mais desapercebidas no meio da festa pagã enquanto se a celebrarem em qualquer outro momento com certeza chamariam a atenção das autoridades romanas que não veriam o momento para prenderem e prepararem os alimentos dosleões e outras feras ou os objetos de lazer dum povo que além de pão também queria circo, sangrento, se pudesse ser.

A data do 24-25 de dezembro foi considerada como arbitrária por muitos mas perante a desinformação sobre tal evento, os Papas decidiram também esta data, além de por razoes estratégias, por ser esse dia, o 25 de dezembro, três dias depois do Solstício que marca, segundo as mitologias da época, o renascimento da Luz entre as trevas, o dia no que nasceram os deuses da maioria dos deuses das diferentes religiões europeias e asiáticas: Nasciam nestas datas os deuses solares mais importantes de todas as crenças da época: caldeus, egípcios, sírios, fenícios, celtas... Eram as festas Dionisíacas para os gregos, as Saturnálias romanas, dentro das quais estava a celebração do nascimento do Sol da que falamos acima do Natalis Solis Invictis mas também Horus, Mitra, Krishna, etc... A maior parte dos povos celebravam o mesmo evento festivo de nascimento dum grande e importante Deus...mesmo foi que os espanhóis quando chegaram a América muitos séculos depois acharam com que os aztecas celebravam também nessas datas o nascimento do deus Huitzilopochtil com o qual a sincretização foi possível e relativamente fácil para os sacerdotes castelhanos.

Esta coincidência aparentemente ilógica explica-se por ser a religião naturalista de culto aos fenómenos naturais a crença mais comum entre todos os povos desde o que o ser humano tem consciência da existência de algo superior que o transcende. É lógico, portanto, a coincidência entre mesopotâmicos, hindus, europeus, norte-africanos e povos americanos, como também o é com os povos da Oceânia e ainda outros povos afastados do mundo europeu.
Anos mais tarde da determinação do dia 24-25 de dezembro como data do nascimento de Jesus, o Papa João I teve a tentação de investigar mais profundamente sobre a realidade do tema que estamos a tratar, ando o trabalho de averiguar algo que pudesse suster-se com um mínimo de lógica a Dionysius Exiguus o qual reafirmou a data da noite de 24-25 de dezembro do ano 754, ano da fundação de Roma, ficando consolidada dai em adiante nestas épocas medievais caraterizadas pela aceitação cega e dogmática de toda afirmação proveniente da hierarquia eclesiástica romana.
Dionisyus Exiguus
Foi, evidentemente no Renascimento, quando as mentes humanas retomaram aquele tema tão antigo embora tao pouco tratado até aqueles momentos. Pensar não era o que aconselhavam os poderes políticos e religiosos, por isso, quando se voltou ao assunto da data do nascimento de Jesus, Joseph Justus Scaliger foi quem propus o nascimento em setembro ou outubro.
Joseph Justus Scaliger
Johannes Kepler, algo mais tarde, afirmou que Jesus de Nazaré deveu nascer no momento em que se produziu uma grande conjunção planetária, a chamada por ele “Coniunctio Magna” que se repete muito raramente e que seria o que passou à História como a “Estrela de Belém” que não era outra cousas do que um grande “Stellium” acontecido em março do ano 7 antes de Cristo (desculpando o paradoxo). A palavra “estrela” é uma má tradução da forma latina “Stellium” que designa em linguagem astronómico-astrológica própria das épocas das que estamos a tratar uma Conjunção planetária, quer dizer, a confluência no mesmo lugar do céu de vários corpos planetares que somando a sua luminosidade apareceriam sobre as cabeças terrestres como uma grande e chamativa luminescência que daria a impressão duma grande estrela a indicar um lugar especial.

Mais afirmações chegariam-nos a dizer que a estrela de Belém poderia ser um cometa embora o que parece ter passado por aquelas épocas seria o CometaHalley, no ano -11 a. C. Se nos cingirmos ao que diz São Lucas e São Mateus...:

“Depois de nascer Jesus em Belém de Judeia, e tempos do rei Herodes...” 

Vemos que Herodes o Grande governava o país quando nasceu Jesus mas também sabemos que morreu no ano -4 a. C com o que já temos um limite cronológico. O outro limite podemo-lo achar em (Lc. 2,1):

“Aconteceu, que por aqueles dias saiu um decreto de César Augusto para que se fizesse um censo do mundo inteiro. Este primeiro censo teve lugar no tempo em que Quirino era governador de Síria e todos e cada um dos súbditos do império deviam empadroar-se na sua cidade.
Também o José, por ser da casa e da família de David, subiu desde Galileia, da cidade de Nazaré até Judeia, terra de David, onde fica a cidade de Belém para se inscreverem no censo com a Maria, a sua mulher que estava grávida. Enquanto estava ali, chegou-lhe a ela o tempo do parto e teve o seu filho primogénito ao qual envolveu nuns cueiros e deitou numa manjedoura por não haver lugar para eles na pousada”.
Além de mais, poderia ser que o antes dito “Stellium” quisesse ser visto “in situ” pelos “científicos” da época, isto é, pelos astrónomos-astrólogos de Mesopotâmia, berço e paraíso da astrologia, que seriam as três figuras dos Reis.... Magos, segundo a terminologia mais conhecida e talvez mais adequada, os quais sabiam que sob o céu de Palestina ia acontecer a famosa Conjunção da que falamos.

Estrela de Belém
Anos mais tarde, já no século II d. C Santo Inácio de Antioquia na sua Epístola aos Efésios diz:

“A luz da estrela (Stellium???) superava qualquer outra cousa, o seu brilho era insuperável e a sua novidade fazia com que quem a observasse ficasse mudo pelo arroubo. O sol e a lua e outros astros formavam coro da estrela (Stellium???)”.
Morte de Santo Inácio de Antioquia
Fizemos pessoalmente o esforço de investigarmos a posição dos astros seguindo as ancestrais técnicas da astrologia e vimos que no mês de março do ano -7 a. C, justo no dia primeiro de março, salvando as adaptações do calendário que houve que fazer por causa das diferenças entre o calendário Juliano e o calendário gregoriano pelo que nos gerimos e podemos garantir com pouco margem de erro que esse dia e esse mês e esse ano havia no céu uma Conjunção no de Júpiter com Úrano (este último não visível nem, que saibamos, conhecido na altura) por um lado; Vénus e Saturno por outro ao lado da anterior; e também uma outra Conjunção da Lua e Mercúrio. Todas estas Conjunções estaria próximas as umas as outras fazendo um grande Stellium ou "Coniutio Magna". Sete planetas implicados no Stellium...  O mais provável é que o nascimento se produzisse justo pouco antes, durante e justo pouco depois da Alvorada, momento justo em que a visibilidade da luminescência provocada por esses planetas em Conjunção pudesse ser possível. Pela noite não se poderia ver por ficar baixo o horizonte, e pelo dia não se veria pela luminosidade do Sol. O Sol e a Lua veriam-se como o “coro do Stellium” e a conjunção entre ambos os luminares seria quase perfeita.

A modo de conclusão teremos que dizer que ao final não importa tanto o dia do nascimento do Jesus de Nazaré como também não importa o de Buda, Maomé, Mitra, Moisés, Zoroastro, ou outros... O que realmente importa é a mensagem deste grande personagem da História da humanidade que achegou ao ser humano as suas ideias de paz, de amor e de fraternidade base para uma convivência humana em harmonia. Não importa o facto de ser o 24-25 de dezembro uma data posta a conveniência por umas hierarquias poderosas; o importante é o espírito das datas. Os presentes, as refeições familiares, os convites, a solidariedade com os mais desfavorecidos, os dias feriados, etc... todo isso já era costume entre os povos da antiguidade, quer fossem romanos com as suas Saturnálias, os gregos com a chegada do vinho novo em honra a Baco, os nosso antepassados celtas com o nascimento de Lugh nos que os rituais druídicos vivem ainda hoje em uma Europa que tem como costume o visco de ano novo.... Simplesmente o cristianismo adaptou o que já existia com o fim de penetrar e expansionar-se nas sociedades tardo-romanas para impor uns parâmetros morais e políticos que ainda estão presentes....ainda que não se pratiquem.

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