quarta-feira, 25 de junho de 2014

O que foi das jãs? (jã, antarujã, antarujaira, jaira, jarela, *jairo, -a)



Por Higino Martins Estêvez
Sabe-se que Diana deu o vulgar Jana, do que vêm muitas formas românicas. Nisso passou de grã deusa da natureza virgem e animais selvagens a “fada noturna” (Du Cange), “fada das fontes” (NO ibéri­co), “fada que fia de noite” (Algarve), etc. Um pouco por todas as partes cobrou valor de “bruxa”, na típica am­bi­valência dos fenómenos da psique profunda. Na Galiza algures che­­gou a confundir-se com a companha ou estantiga 1. O nome (não o mitologema) entrou aí na penumbra, subs­tituído por dona, senhora, moura, etc. O declínio de , de breve corpo, a par viu a con­fu­são com a companha, a favor do plural. 
As jãs foram a turba feérica, coro das ninfas ou pequenas fadas vege­tais, constelação de luzinhas vistas ou alucinadas na noite. A com­panha primitiva foi também uma turma de luzes aé­re­­as, à margem da interpretação consciente que das visões coleti­vas se fazia já no séc. XVII I 2. Ao cabo luzes na noite, quer terríveis, quer fas­ci­nantes. O que presta é dis­cer­nir os sentimentos que fizeram a passagem de “luzes das fa­das noturnas” a “luzes da hoste diabó­lica”, e depois “fan­tas­mas dos defuntos”. A história cultural aproveitará os dados, para cuja análise ainda não forjou o ins­tru­mento da psicologia pro­funda coletiva.
Fortuna diversa levam os derivados. Antarujã (e antarujaira) “bruxa” 3 junta a uma palavra enigmática que Coromines crê deturpação de untura, com oportunos apoios semânticos. A opacidade do primeiro membro fez altera­ções pareti­mo­ló­gicas, ao cabo tão caducas qual antarujã. Não é clara a composição e a figura que oculta: untura de jã?, jã de untura? Mais importa jaira, no composto antaru­jaira (antaruxaira no P. Sarm.), que isolada é “es­tan­­ti­ga noturna” (Sarm., CaG, 182r). É o lat.-vulg. *janaria (lat. dianāria), através de *jãaira (não de *jãeira, que dera *jeira. O jeira real é de diā­ria), qual chaira ou avelaira de planāria e abellānāria. O adjetivo é aí coletivo, e cumpre pôr (turma) dianāria. Voz e mito são antigos, mas no outro milénio não era “estantiga” mas “turma de Diana”, depois “turma feérica”. 
Dianāria podia modificar nomes não coletivos, como se deduz do jaira que chegou vivo: “mulher aloucada, coquete, garrida” (em Padrão, segundo Crespo Po­zo). A entender me-lhor o sentido deste jaira serve um seu derivado: jarela e jarelo, -a. Mais frequente que o posi­tivo, já aparece em F. X. Rodríguez, donde o toma Cuveiro Pi­nhol: “la mujer respondo-na, descarada y al­bo­ro­ta­dora”. Eládio R. Gonçález define xarelo “pessoa descarada, pou­co formal no falar, de pouco critério” e aclara dar-se mais amiúde às mulheres. Por fim, Isaac Estravis define jaira: 1º) diz-se da mulher que anda trás os homens, 2º) mulher des­ca­rada, atre­vida, 3º) borra­cheira, bebedeira (tomar uma jaira). Jarelo é em geral “pessoa que fala ou obra com desver­gonha”. É claro o nexo fóni­co de jarela com jaira. O diton­go átono re-duz-se. Em data românica in­corpo­ra-se a desinên­cia diminutiva com des­locar do tom. 
Interessa das palavras o perfil que surge da integração das várias definições. Docu­menta a no­ção pela qual a pessoa – nomeadamente uma mulher – parti­cipa da natureza do nume “Diana”. A pessoa pos­suí­da mostra-se “ligeira de casco; coque­te, garrida” e, na definição de jarelo, “sem vergonha”. Desenvolvida­mente, “que está isento da pegada moral judeu-cristã, parti­cu­lar­mente no que diz respeito à conduta sexual” ou “que está livre das ataduras da condição social comum”. Jairo, -a “feérico” é adjetivo bonito, digno de restaurar-se, mas é jaira e jarela o que cor­re com saibo a transgressão subterrânea, às tradi­ções pagãs do feminismo vegetal e resistente de sempre.


1 Sarmento, CaG, 163r: “Jâns, as jans. Dícese hacia Orense: fulano vio as jans, lo mismo que ver la compaña o hueste”.

2 A companha, hoste, estantiga, primeiro sem dúvida bando diabó­lico e aéreo de longa tradição, como acusam os próprios nomes, foi inter­pre­tada no contexto cristão recente como procissão de de­funtos. Mas a especu­lação cristã popular ocupava um lugar similar ao da racionalização ma­terialista posterior, e o fenómeno alucinatório era indepen-dente. Em The Bible in Spain de Borrow, temos testemunho tão importante ou mais do que os do P. Sarmento. O mais explícito é o do cap. 29, no que o guia lhe descreve a Borrow a Estadea e depois lha explica. Cumpre separar descri-ção de explicação. “Levantou-se uma névoa muito espessa. De pronto começaram a brilhar por riba de nós, entre a névoa, muitas luzes; havia ao menos mil. Ouviu-se um chio tremendo, e as mulheres caíram de bruços gri­tan­­do: Esta-dea! Estadea! Eu também caía e gritava: Estadinha! Estadinha!” A seguir o guia crê-se obrigado a explicar: “A Estadea são as almas dos mortos que andam por riba da névoa com luzes nas mãos.” A separação é clara e a meu ver a autenti-cidade da experiência alu­cinatória coletiva está assegurada por esse chio tremendo, característico de certas imagens arquetípicas aparentadas (V. o Wotan de C.G. Jung). Além da racionalização, a visão da cavalgada do bando aéreo diabólico em for­ma pura vê-se no testemunho do cap. 27, in fine: “De crermos aos galegos, os demos das nuvens per-segui­ram os ingleses na sua fuga e atacaram-nos com trovões e golpes de água quando pugnavam por remontar as re-viradas e empinadas vereias de Foncevadão.”


3 Sarm., CaG, 182r. “Antaruxá y antaruxairas. Creo llaman allí [Ourense] a las bruxas” Diz ser nome de Monte-rei.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Anumão, a velha moura da Montanha.




Por José Manuel Barbosa

Chegamos a Quéguas passadas as 11:00 da manhã. O dia era claro e fazia calor. Isso permitia a caminhada pela monte. Deixamos o carro num pequeno aparcamento natural adequado para este tipo de cousas e começamos a andar por um caminho que nos levou a uma subida cheia de tojos, urzes, carquejas e monte baixo. Em breves minutos pudemos visualizar o amplo planalto de Anumão onde rebanhos de vacas do País pastavam tranquilas ao sol. Igualmente ao longe pudemos visualizar várias manadas de garranos com os seus poldrinhos recém nascidos que nos contemplavam entre curiosos, respeitando ao sempre imprevisível ser humano e cuidadosos de não se afastarem muito das suas mães.

Rebanhos de vacas e manadas de garranos observavam cautelosos as nossas andanças

Os nossos amigos: Marta e Cristian abriam o caminho como guias nativos que eram. A companhia era perfeita. A sua amabilidade e afeto fez-se sentir sempre e em todo momento, mesmo quando chegamos à Anta conhecida como a Casinha da Moura ou Anta de Anumão onde nos ofereceram um delicioso leite frito elaborado pela própria Marta e aguardente de bagaço que nos ajudou a recompor-nos, à vez que descansávamos após uns quilómetros de caminho. Sentamo-nos. Comimos algo de fruta e gravamos algo no nosso telemóvel sobre o lugar no que estávamos. 


A poucos metros duas grandes aflorações de seixo da altura duma mesa de cozinha chamaram a nossa atenção. Sempre é que perto de monumentos megalíticos que temos visitado há uma grande quantidade de quartzo mas nunca tínhamos visto rochas deste material tão grandes como aquelas... A vários quilómetros em direção Norte pudemos ver no horizonte a construção natural e granítica conhecida com o nome de Pedras de Anumão, Anamão ou simplesmente Numão como é que aparece escrito na estrada que vai entre a fronteira da Ameixoeira e Castro Leboreiro.

A Casinha da Moura, uma anta conservada muito bem. Ao fundo a deusa deitada e fazendo-se ver.

Estas pedras são umas construções rochosas que desde a anta semelham uma mulher deitada na que podemos distinguir os seus peitos, a sua barriga de mulher grávida e se nos achegarmos, mesmo poderíamos imaginar o resto do corpo deitado...



O nosso objetivo era chegarmos até essa figura de moura deitada, a velha moura de nome Anumão cuja casinha, a Casinha da Moura, era a anta desde a que gravamos umas palavras nos nossos telemóveis para fazermos a ligação necessária com outro construto similar em Duhallow, no Sul da Ilha de Irlanda. É este o chamado “The Paps of Anu” ou “The tits of Anu”, quer dizer, As Tetas de Anu (ou Ana, ou Dana), a deusa terra que nos acolhe, nos nutre e nos dá vida. A Anu Geresiana era aquela que estávamos a contemplar nesse momento desde o planalto raioto próximo à aldeia entrimenha de Quéguas. A Mãe Ana/Anu/Danu/Dana que constrói os nomes de Anumão/Anamão/Numão, todos eles registados por nós, nos lugares de Entrimo, Guginde, Bouça d'Agro (ou Bouzadrago que é como figura deturpado nos indicativos), A Ameixoeira, O Ribeiro e Castro Leboreiro, sendo os três primeiros da região de Ourense dentro do Concelho querquerno de Entrimo e os três últimos dependentes do Concelho Minhoto de Melgaço.
Nós com a nossa amiga Marta que nos fez de guia na nossa expedição. Ao fundo o peito de Anu onde há um ponto alto de observaçao desde onde se visualiza todo o nosso trajeto. Foram 10 km...


Comentamos com o nosso amigo o Doutor Higino Martins o significado do nome Anumão/Anamão/Numão e dizia-nos o seguinte:



“DANU foi explicada, bem a meu ver, como fruto do céltico *DEWA ANU "a deusa Anu" (E, primeiro A e U longos) ao passar ao gaélico. Por sua vez, o ant. ANU, g. ANONOS (U longo), segundo os textos mais antigos, era a mãe dos deuses (Túatha Dé Danann "povos da Deusa Danu", com novo acréscimo de DEWA-DÉ.



É mais que a Terra Mãe que é a Deusa única polivalente. Talvez abstração da teologia druídica, o princípio mesmo. Portanto equivalente da védica Áditi, cujo nome significa "infinita". Seguindo o fio quadra propor que ANU, ANONOS se analisa AN- prefixo negativo e ON- um dos temas indo-europeus para "ano", id est, "ciclo temporal"; logo "sem fim, eterna".



Numão é mais interessante, pelo enigma, mas não adianto. Se a pronúncia de Entrimo é boa, deveria grafar-se (A)NAMÃ. Está perto das Rias Baixas, que confundem irmão e irmã na pronúncia de vogal nasalada sem ditongo. A prótese do A- iria no mesmo sentido, se é o artigo feminino apegado. Supondo o rumo ser certo, teríamos "A NAMÃ" deste lado da raia. Numão logo seria topo-onomástica oficial portuguesa alterada por funcionários centrais. Continuemos nas trevas; se não imos também não temos nada. Fica o enigma da primeira vogal: U ou A? Só podem acordar num O: NOMÃ, que seria híbrido celto-romano, *NOMANA, híbrido pela desinência latina -ANA. Não posso ver mais. NOM- pudera ser da raiz *nem-, que envolve noções relativas à hospitalidade.



Bom, agora vejo que a raiz envolvida será *nei- "brilhar" (Pokorny 760), que no céltico dera *NEMA "brilho; beleza" (E e A longos), donde gaél. niam "id.", e *NEMIS "brilhante, belo" (E longo), donde néim e o nosso monte Neme, de Bergantinhos (lembra a pág 103 d'As Tribos Calaicas). Nesta luz parece-me mais provável o étimo ser *NEMANA (E e primeiro A longos), híbrido sim, de NEMA subst., aqui adjetivado com a desinência latina, logo nos mil anos de bilinguismo, e significando "brilhante, bela" com referencia à Mãe Terra, cujo corpo nutris e gerador tem teofania nas pedras que me fizeste conhecer. Isso parece quadrar.



E também não atinei ao dizer que A e U acordavam só num O. Vou por partes, está provado que as vogais longas célticas eram mais abertas do que as breves, ao invés do latim. Logo o E longo de NEMA era aberto. Além disso, no tempo diglóssico a metafonia do A final operaria mais forte. A forma de Entrimo tem toda a probabilidade de ser mais conservadora. Quanto à de Melgaço, o A pretónico terá sido Comlabializado pelo M, como é usual na língua popular. Por que não labializou a forma de Entrimo? Pela ajuda do artigo apegado, que reforça a harmonia vocálica”.



A nós, já desde o princípio veio-nos à ideia uma divindade comum a todos os povos indo-europeus que tem a forma léxica para os celtas de Dana/Ana/Danu/Anu. Esse nome que deixou rastos por toda a Europa em hidrónimos do tipo “Danúbio”, “Don”, “Dniester”... ou topónimos como Donets (agora que a Ucrânia está infelizmente na moda nos informativos...) ou Dinamarca. Achamos essa divindade no Devana eslavo, na Diana latina, na Danae ou Démeter grega...


Do seu nome originário gerasse provavelmente o termo “Xana” que é o nome que nas Astúrias têm as nossas Mouras, o “Anjana” ou “Anxana” cântabro, cujo “An” inicial poderia ser ao artigo determinado das línguas gaélicas...

Cristian em primeiro termo. O nosso guia levando-nos por paisagens tolkianas.

No âmbito linguístico galego-português também temos as nossas “Jãs” (Diana>Djana>Jana>Ja(n)a>Jã) como também nos explica tão brilhantemente o nosso caro Doutor Higino Martins.



Por outra parte e depois de dar-lhe voltas à palavra Anumão/Anamão/Numão, nós desde a nossa humildade quisemos ver uma dupla construção. Por uma lado o nome da Deusa Mãe Danu ou Anu e por outro a forma -mão. A primeira para nós não tem muita dúvida. É a deusa indo-europeia que para os celtas irlandeses é mãe dos Tuatha Dé Danann, quer dizer, “O Povo dos Filhos de Dana”. É Deusa associada à agricultura, aos ciclos da natureza e guardiã do gado, da saúde, das granjas, das terras de cultivo e provisora de alimentos e sustento...

Caminhando pelo planalto de Anumão

A segunda parte da palavra, -mão ou -mã, poderia proceder de alguma palavra equivalente em celtico-galaico ao gaélico antigo “móa”, “máo”, “máa”, “móo”, “mó”, igual do que em antigo Britónico “mwy” donde surgem o atual galês “mui”, córnico “moy” e bretão “mui” com o significado de “maior”. Igual do que em latim major”. É portanto o comparativo de superioridade da forma “mór”, grande, mas também ancião, adulto, velho, importante, distinguido... (Muitas vezes falamos dos nossos "maiores" quando nos estamos a referir ao nossos velhos em idade, aos nossos ancestros...)

Imagem da Velha Anu.

Seria portanto “a velha Anu”, “a distinguida Anu” “Anu a grande”, "a nossa ancestral Anu"...


Acrescentemos que na freguesia de Duhallow, no Condado de Corck na Província de Munster em Irlanda temos o que se conhece com o nome de Dá Chích Anann, quer dizer, o que em inglês seria The Paps of Anu ou para nós “As duas tetas de Anu”. Curiosamente são dous outeiros com formas de peitos de mulher que se identificam com os peitos da Deusa Mãe da que estamos a falar: Anu/Danu...
The Paps of Anu em Duhallow, freguesia no Condado de Corck (Munster-Eire)

A refeição deu para isto e para muito mais, mas tivemos que continuar o caminho em direção às pedras que víamos no horizonte. Passamos um curro onde a gente do lugar encurrá-la os garranos numa festa de rapa das bestas durante o mês de Agosto para marcá-los e identificá-los. Foi ali onde vimos pegadas de lobo...

Um curro da rapa das bestas ao nosso passo.

Passamos umas gândaras onde um regato de monte regava uma parte dum amplo lugar verde entre penedos e monte baixo. Ali os garranos iam abeberar habitualmente e optamos por beber aquela água fresca e pura que caia da montanha para fazermos mais levadeira aquela andaina sob um sol estranho de primavera. A altitude era o suficiente como para sentirmos a brisa fresca que com total certeza se convertia em frio cortante nos meses de inverno mas que agora não terminava de sentir-se cálida.

Bebendo do regato de montanha onde bebem os garranos.

Ao cabo de uns minutos de constante marcha conseguimos chegar a um marco fronteiriço: o 47, a partir do qual começamos o trajeto por território administrativamente português. A ladeira pela que começamos o novo percurso era a base da barriga da Deusa Anu a quem procurávamos para posteriormente passarmos pela mama da nossa Deusa. Ali a magia que envolvia o mito da divindade desvendou-se totalmente ao vermos aquelas paredes de granito puro que ficavam à nossa direita com a forma do grande peito divino que nos levou ali. Visualizamos uma cova no alto, o qual se nos revelou acessível pois há um caminho que leva ao alto e uma abertura na rocha que deixa ver todo o planalto que tínhamos percorrido desde a manhã. A Deusa deixava contemplar aquela paisagem imensa onde os cavalos e as vacas se perceberiam como pequenos brinquedos. A vista espetacular seria para ser admirada mas decidimos deixá-lo para uma outra expedição. Levávamos andando desde as 11:00 da manhã e nesses momentos estavam sendo as 15:00 pelo nosso relógio à vez que já tínhamos à vista a capela da Nossa Senhora de Anumão, ponto de cristianização do lugar, mas sem qualquer dúvida lugar sagrado para os nossos ancestros que adoravam à Deusa Mãe que deitada ali mesmo dormia desde há milénios.

A capela finalmente...
Chegamos à capela que estava fechada mas ao lado havia um grande penedo, talvez ritual, coberto de riscas e fendas pelos que em tempos perdidos na memória correriam os líquidos vitais dos animais sacrificados à nossa Deusa. Ao pé do penedo uma escada que levava a uma espécie de púlpito onde duas rosáceas ou lábaros perfeitamente lavrados no granito desentranhavam uma religiosidade ancestral oculta ao olhos de qualquer profano.

Marta subindo à pedra ritual. À nossa direita a capela que cristianiza o lugar também sagrado para os nossos ancestrais. A escada deixa-se ver...
Conseguidos os objetivos, decidimos comer fruta e beber água. Descansamos uns minutos e regressamos por onde viemos. De volta, as manadas de garranos e vacas apareceram-se-nos mais próximas. Um dos bois olhou para a nossa comitiva com olhos de desconfiança de tal jeito que nos obrigou a exercer a prudência. 
Lugh queria dizer-nos algo...
O sol, raríssimo, apresentava um amplo círculo ao redor que mesmo em vez de ser o tradicional halo solar talvez poderia ser originado pelos chemtrails que não deixavam de marcar aquele céu falsamente limpo daquele sagrado, intensamente lindo, surpreendentemente virgem e ainda não humanizado planalto onde mora ainda dormida a nossa moura de nome Ana ou Anu que segundo os nossos antepassados era a nossa Mãe ancestral: Anu Mão, Ana a Velha, Ana a Maior...
Escada com rosácea ou lábaro que representa o Lugh solar, ao pé da pedra ritual de Anumão
 

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Crónica das III Jornadas das Letras galego-portuguesas em Pitões das Júnias





Pela equipa do DTS

Pitões encheu-se de festa os dias 30 de maio, 31 de maio e 1 de junho. As III Jornadas das letras galego-portuguesas trouxeram várias atividades à aldeia geresiana que tinham a ver, como em edições passadas com o nosso passado celto-galaico.
À entrada do salão de atos da Junta de Freguesia. Lúcia Jorge, presidenta da Junta em primeiro plano. Detrás José Barbosa e Ro Palomera.
Desta vez chegaram até aqui palestrantes conhecedores do tema como João Paredes, geógrafo, tradutor, jornalista e ex-secretário do IGEC (Instituto Galego de Estudos Celtas). A sua palestra “A utilidade do celtismo. Celticidade galaico no Século XXI” deu a conhecer aos ouvintes as possibilidades económicas de fazermos parte dum património histórico-cultural comum a outras terras atlânticas que a dia de hoje são oficialmente celtas.
João Paredes apresentado por José Barbosa
Posteriormente os membros do SAGA (Sociedade Antropológica Galega) Rafa Quintia e Miguel Losada licenciado em Antropologia Social e Cultural, Licenciado em Empresariais, músico tradicional e escritor, o primeiro, e Licenciado em Direito, Diplomado em Gestão do meio-ambiente e antropólogo social o segundo, falaram da importância da cultura e da construção cultural no que diz respeito da identidade dos povos e nomeadamente da região norte, oeste e noroeste da península ibérica cujo passado pré-histórico e proto-histórico é comum. Com muito humor e com exemplos muito claros salientaram uma realidade que se transmitiu através dos séculos às nossas terras e que sobrevive na cultura popular e nas tradições mas ancestrais.
Rafa Quintia no uso da palavra e Miguel Losada no Centro. Ambos os dous do SAGA (Sociedade Galega de Antropologia)
Maria Dovigo, filóloga, escritora, académica correspondente da AGLP (Academia Galega da Língua Portuguesa), diretiva da Associação Pró-AGLP, conselheira do Conselho de Redação do Boletim da Academia, sócia do MIL (Movimento Internacional Lusófono), coordenadora da seção galega desse associação lusófona, colaboradora do Nova Águia, revista do MIL falou sobre a importância do “Mito de Santo Amaro desde a procura da Ilha paradisíaca e a Diáspora dos galegos de Lisboa”. A sua exposição, envolvida em poesia, filosofia e mitologia envolveu aos ouvintes numa narração oral especialmente impressionante. Ela veio desde Lisboa para nos acompanhar e desfrutarmos da sua palestra.
Desde Lisboa veio a nossa amiga Maria Dovigo para falar de viagens e Diásporas.
O domingo e desde Ponte Vedra abriu as portas às palestras de Alberte Alonso músico, jornalista, escritor, investigador, divulgador e antropólogo falou-nos da “Utilidade das pedra-fitas no neolítico como observadores astronómicos” numa palestra visual onde pudemos visualizar as imagens dos megalitos por ele visitados e as utilidades que os homens epipaleolíticos, neolíticos e das Idades dos Metais davam como medidores das estações com fins agrários.
Alberte Alonso, falou das pedra-fitas e da sua utilidade em épocas pré e proto-históricas.

Infelizmente o DoutorAndré Pena Granha, Licenciado em Geografia e História e Doutor em Arqueologia e História Antiga, Decano de Estudos do IGEC (Instituto Galego de Estudos Célticos) não pôde assistir por razões familiares mas enviou como interveniente ao Dr.. Hugo da Nóbrega Dias, tradutor, designer gráfico e gestor de marketing para expor o tema “Constituição política celta das galaicas trebas e toudos. Etno-arqueologia institucional”.
Desde Aveiro chegou o nosso amigo Hugo da Nóbrega para expor o trabalho do nosso também caro André Pena Granha.
Posteriormente e como palestra final o Licenciado em Direito, investigador, escritor, conferencista e filósofo Pedro Teixeira da Mota falou sobre “As fontes matriciais de Portugal” dando uma visão mística dos elementos mitológicos ancestrais e constitutivos do ser português
Pedro Teixeira também veio desde Lisboa para nos acompanhar com a suapalestra sobre as fontes matriciais de Portugal.
O Sábado de tarde assistimos igualmente à presentação do livro do membro do IGEC Luís Magarinhos intitulado “O Retorno da Europa. Aspectos comparados da cultura e identidade europeia” editado pela portuense Print Cultural e com prefácio do escritor Carlos Quiroga
Luís Magarinhos na apresentaçao do livro .“O Retorno da Europa. Aspectos comparados da cultura e identidade europeia” editado por Print Cultural representada pela Isabel Rocha à nossa direita na foto.
Todas as palestras contaram no seu final com perguntas e questões expostas pelo público onde se desenvolveram os temas tratados. Para além da parte teórica e também paralelamente se desenvolveram atividades de reconstrucionismo céltico que visavam recriar visualmente atividades quotidianas próprias do mundo galaico pré-romano.
Oinaikos Brakaron, grupo de reconstrucionaismo celto-galaico.
O grupo de reconstrução Oinaikos Bracaron nos ensinou as vestimentas celto-galaicas, jogos populares, atividades sociais, artesanais e a atividade numa forja proto-histórica. Aliás Francisco Boluda, representante do grupo, professor de desenho e ilustração arqueológica, desenhador técnico arqueológico em diversas escavações de diversos castros da Galiza e Portugal, desenhador de vestuário, palestrante expus em imagens desenhadas por ele a estética dos povoados do noroeste peninsular quer do ponto de vista arquitetónico quer do ponto de vista das vestimentas, da panóplia ou da vida quotidiana.
Francisco Boluda apresentando os seus desenhos de reconstrução do ambiente celto-galaico.
O Sábado a última hora e na praça da Junta da Freguesia a decorreu atuação do Bruxo Queima. Na mesma actuação, o grupo “Sueño de Caliope” prévio recital da poeta Natália Margalejo Concheiro, representaram o espetáculo “Kéltia” com canções em galego-português, inglês e gaélico, deram cor às Jornadas. As refeições foram igualmente atos de irmanamento galaico-português onde a amizade e a comunicação correu livre.
A organização correu de parte do grupo DTS (Desperta do teu sono) juntamente com a Junta de Freguesia de Pitões das Júnias nas figuras de Lúcia Jorge e António Cascais e o apoio do Concelho de Montalegre a quem agradecemos. 
Atuaçao do Bruxo Queimam e o Padre Fontes na Casa Rural Nossa Senhora dos Remédios de Mourilhe
 Igualmente queremos agradecer profundamente a colaboração do Padre Fontes, sempre ao dispor das nossas Jornadas com uma ceia de recepção dos intervenientes e à Taberna Terra Celta quem nos ofereceram o seu apoio e colaboração indiscutível.
A Taberna Terra Celta no seu interior. Brindando por próximas Jornadas.
 Obrigado!!!!!
Concelho de Montalegre

Orlando Alves, Presidente da Câmara Municipal de Montalegre agradecendo.
Lúcia Jorge, Presidenta da Junta de Freguesia de Piões das Júnias, o nosso grande apoio.



FOTOS:
Hugo da Nóbrega e José Goris.
Na foto os nossos fotógrafos José Goris de pé e Hugo da Nóbrega acompanhados da nossa cara Maria Dovigo


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