terça-feira, 13 de novembro de 2012

O tratamento do universalismo e a endofobia nos nossos clássicos


Por José Manuel Barbosa

O amor ao próprio tende a valorizar a sua cultura como algo que é património de todos. Nem só dos nacionais que falam a sua língua ou usam a cultura autótone.

No momento atual estamos vendo como um poder contrário à língua dos galegos favorece o desconhecimento, a ignorância, para favorecer a entrada dos elementos linguísticos alheios que acabar impondo com maior um menor violência uma substituição linguística que em nada favorece Galiza. Os novos galegos são educados em castelhano maioritariamente embora a sua língua inicial seja o seu galego particular. Educam-se para que apanhem consciência de que a fala que eles têm por ancestral não se reconheça como uma língua universal e transnacional. Esta tem uns limites estreitos que coincidem com o território administrativo que os gere sem lhes ensinarem que o mundo é muito grande e nele há muita humanidade com a que podemos nos entendermos sem mudarmos para qualquer outra língua franca, conhecida ou não. Essa ideia tira-lhe utilidade. Não serve para andar pelo mundo que para isso está o castelhano.

Os nossos velhos galeguistas conheciam este facto. Conheciam que os galegos tinham um instrumento de comunicação internacional embora o seu uso fosse muito deficiente por desconhecimento da póla mais viçosa conhecida no mundo com o nome de português. Todos eles, ou pelo menos a maior parte deles, deu a conhecer as vantagens que um galego tem à hora de dominar uma das línguas mais estendidas do mundo. Essa extensão e utilidade é algo muito pouco admirada e desejada por aqueles que gerem ainda a dia de hoje a nossa vida linguística. A razão não é limpa. A razão é muito obscura. É a vontade de matar a língua dos galegos e impor a sua por acima de razões linguísticas e benefícios psicológicos e económicos.

Vejamos que ideia de universalismo tinham os nossos clássicos:


“Galiza e Portugal estreitadas ao fin supoñerian unha expansión cultural de idioma diferente do castelán tan extensiva cuase como a diste na península a camiño de rivalizar tamén na América, no baluarte do Brasil”

António Vilar Ponte. Pensamento e Sementeira. Pág 213

“Santo idioma, idioma inmortal, polo que a nobre Lusitania nos tende os seus brazos hirmáns dicíndonos que para él ainda pode haber unha nova hexemonía novecentista! Que tanto galaico-portugués como castelán se falará de novo en América...Que o galaico-portugués, o castelán e o inglés son tres idiomas chamados a loitar por superarse no Novo Mundo. E virá un forte pangaleguismo traguendo a luz para a caduca iberia”

A.Vilar Ponte. A Nosa Terra. nº 60

“O portugués é un fillo do galego e entre os dous non hai mais capitalmente que diferenzas fonéticas que non son tan grandes quizais como as que existen entre o andaluz e o castelán. Si nosoutros empregamos a ortografia histórica galaico-portuguesa teremos salvado a dificultade que separa ambas as duas língoas e daremos ao galego un carácter mais universal, facéndoo accesible ao maior número de homes.
Foi un mal da literatura galega aislarse mediante a sua ortografia. Escrita com ortografía portuguesa houbera corrido mais facilmente o mundo e isto tería influído na vitalidade do noso idioma e do noso pobo, pois ambos van intimamente unidos”

Johan V. Viqueira
Pol-a reforma ortográfica.
A Nosa Terra. nº 43. Pág. 1

“Galiza, como grupo étnico, tem dereito a diñíficar a língoa que o seu proprio xenio creou, porque é una língoa capaz de ser vehículo de cultura universal, porque lle sirve para comunicar cos povos de fala portuguesa”

Castelao. Sempre en Galiza. Pág. 108

“Quen son os que tratan d’arredarse do resto do mundo, nosco –os galeguistas- que falando o nosso idioma conquerimos entendernos com portugueses, brasileiro ou vosco –os desleigados- que por poñer toda-las forzas na defensa do castelán, creendo supremo hacedor, tedes que sere eistraños antre aquelas xentes, co-as que nosco, sin ningún sacrifício, faguemos entendernos?”

Xosé Ares Miramontes
O galego é de moito proveito.
A Nosa Terra nº 72. Pág 3

“Dispois de todo, a lingua nosa é a portuguesa –un, galego modernizado, outra, portugués antigo- xa casi comparte a hexemonía no mundo de civilización latina c’o castelán e acabará por compartilo por inteiro.”

Portugal e Galicia
Unha festa dina de lembranza.
A Nosa Terra. nº 58. Pág 4


Ódio a todo aquilo que cheire a português

Mas o poder, conhecidos estes argumentos e desejoso de que não se estendessem, criou mais uma razão e mais um obstáculo para que os homens e as mulheres galegos do comum, arraigados e amantes do seu, não continuassem adiante no processo de reconhecimento duma realidade que lhes abria as portas dum poderoso mundo no que não só faríamos parte, mas também não seríamos uma parte qualquer. O nosso lugar nesse mundo seria o ponto matricial.
O ensino e os média parciais e servidores de quem não tem em muita estima aquilo de que podemos considerar nosso, apresentam um paradigma que não se corresponde com a realidade que as ciências da linguística apresentam, favorecendo posteriormente uns prejulgamentos que em nada ajudam a um aproveitamento total da nossa língua. Esses prejulgamentos favorecem racismos endógenos, quer dizer endofobias e auto-racismos que se estendem, estes sim, por ali por onde se pode estender a consciência: pelo mundo do qual somos matriz....já não só para não nos reconhecermos, mas para que nós próprios odiemos aquilo que o poder considerou sempre inferior: Portugal e o seu mundo civilizacional. Quem não ouviu alguma vez ou mesmo viu com os seus próprios olhos um comentário ou um ato racista contra um português ou algo procedente de Portugal? Para que isso? Que finalidade tem esse racismo na Galiza?

Portugal foi o único país da Península Ibérica que não consolidou a sua pertença à Monarquia Hispânica. O único país que tem uma língua que pode concorrer com a “lengua común”. O único que dignificou a sua legítima não inclusão num projeto nacionalitariamente impositor.

Os galegos menos vinculados às letras, menos evoluídos inteletualmente, acolheram sempre e acolhem com mais facilidade este tipo de prejuízos, sem se darem conta que ir contra algo que criou o seu próprio povo é ir contra a sua própria individualidade num ato de inconsciência que serve para vilipêndio de próprios e estranhos. Algo que não se explica se não é por falta de cultura, por falta de informação e em muitos casos por motivo duma pailanice integral que sobrevoa a vida dos galegos alimentado por um poder vírico e doentio. Talvez medo a se reconhecerem "muito portugueses" e nada castelhanos... Dizem que a ignorância é atrevida...

Que dizem os galeguistas históricos...?

“...y la huella de dicha nefasta influencia es tan notoria, como puede observarse viendo hasta que punto muchos de nuestros paisanos, sin razón alguna para ello en proceso inconscientemente hijo del prejuicio centralista, se hacen eco del odio de Castilla hacia Cataluña y Portugal, aún cuando con Portugal tengamos una comunidad de lengua y de Cataluña no hayamos jamás recibido un solo agravio”

A.Vilar Ponte. Pensamento e Sementeira. Pág. 261

“...fermosa práitica cultura a dos nosos señoritos e a dos tristes gobernos centralistas que nos arredou e sigue arrendándonos de Portugal e do mundo portugués cada vez mais”.

António Vilar Ponte. A Nosa Terra. Nº 56. Pág. 1

“...y queda tambén, por lo tanto, condenado para siempre el dicho ignaro de los que a los gallegos que depuran su lengua los califican, como si esto fuese defecto, de aportuguesados”

A.Vilar Ponte
Pensamento e Sementeira. Pág 152

Acrescentamos a isto que em Portugal houve e ainda há hoje, ainda que em menor medida, um sentimento anti-galego que serviu de forma de maltrato aos portugueses do Norte. Tradicionalmente os sulistas nomearam os nortenhos de galegos. Às vezes despetivamente, outras simplesmente como uma forma de identificativo étnico inconsciente que nos leva a acreditar na existência para eles dum continuum humano que não para no Minho nem na raia seca galaico-portuguesa.

“...os lisboetas bulrábanse igoalmente dos portugueses do norte porque éstes eran galegos”

Castelão. Sempre en Galiza. Pág 338

“E dende Lisboa non se ve nin se sinte a necesidade de Galiza, porque tampouco está aló o berce de Portugal”

Castelão. Sempre en Galiza. Pág 335-336

Não sabemos o que aconteceria nas consciências dos galegos se em vez de limitarmos ao Sul com esse Portugal supostamente subdesenvolvido que nos apresentou sempre a Coroa castelhana tivéssemos um Portugal poderoso como podem ser hoje o Reino Unido, os EUA ou a Alemanha. Talvez com essa imagem de poder, os galegos teriam mais consciência de pertença a uma comunidade linguística e étnica galaica que transcendesse as fronteiras políticas impostas por uma história que como sabemos sempre é escrita pelos interesses de uns poucos por acima de uns muitos. Talvez o conceito de reintegração linguística fosse mais fácil de expor e talvez o poder madrileno tivesse mais respeito por uma realidade que ainda hoje vive e permanece apesar das políticas linguísticas e nacionalistas pró-castelhanas.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Vida despois da morte


Por David Outeiro

Evidencias científicas e a sua realidade no mundo celta


E se tivesses estado dormindo? E se, enquanto dormias, tivesses sonhado? ¿E se nos teus sonhos, tivesses ido ao céu e ali tivesses apanhado uma estranha flor? E se, ao acordar, tivesses a flor nas tuas maos? Ah!, e que é o que aconteceria, portanto?

Samuel Taylor Coleridge

A morte é um dos grandes misterios, uma das maiores preocupações do homem desde que é homem. Um processo pelo qual todos passaremos mas no que muitos não querem pensar. Para todos os povos do mundo,até a chegada das crenças materialistas da ciência, a morte era “simplesmente” um trânsito, não um final. Mas não só isso, havia pessoas especializadas em contatar com os espíritos dos devanceiros e inclusivamente viajar até o Além, em vida; xamãs e druidas. Mas o que muitos não sabem é que em algumas disciplinas científicas estão a investigar elementos que poderiam mudar completamente a nossa perceção da morte. As EQM, as chamadas Experiencias de Quase Morte, chegaram a causar comoção em boa parte da comunidade científica,as cada vez maiores evidências fizeram cair os posicionamentos do materialismo. Psiquiatras, neurocientistas, físicos quánticos, cardiólogistas e cientistas de muitas outras disciplinas estão sinalando que a morte não é o fim, é a consciência que sobrevive à morte física do corpo e pode transcender os limites do espaço-tempo.

Como alguns sabeis, percorro a nossa terra na procura das pegadas do legado ancestral céltico. As pervivências de crenças, rituais e mitos que provêm do passado mais longínquo. Faz uns dous anos comecei a ter notícias dos estudos relacionados com as EQM. Na minha viagem comecei a identificar fases destas experiências nas crenças galegas sobre a morte, que verdadeiramente integram todas as crenças das religiões desde os primordios. Com o tempo achei pessoas que me contaram as suas próprias experiências de quase morte. Experiências que observava com curiosidade mas sem me sair do meu reducionismo biológico, da minha afinidade à ciência materialista com a que sempre estive vinculado como atéu que na maior parte da minha vida fui. Mas no meu caminho apareceu uma pessoa admirável que mudou a minha vida por completo fazendo cair a minha afinidade com a ciência materialista como um castelo de naipes. Esta pessoa, provem duma longa linha herdada de pessoas que têm umas capacidades muito especiais: a de contatar com as ânimas dos devanceiros. O meu ceticismo ofereceu resistência a pesar da confiança que tinha e tenho nesta pessoa. As evidências e as mensagens foram demoledoras. Hoje, não tenho medo em dizê-lo, porque não tenho dúvidas, penso que temos de mudar o paradigma porque...a consciência, a alma sobrevive à morte física do corpo. E sobre isto e a relação com a ciência, falaremos neste artigo.

Foi em 1975 quando o psiquiatra e filósofo norteamericano Raymond Moody publicou o seu primeiro livro; “Life after life”(Vida depois da vida). Nele recolhia centos de testemunhas sobre as EQM, experiências que os livros de medicina não tiveram em conta nunca antes. A publicação teve um amplo sucesso e resultou um grande impato. As experiências, embora muitas seguiam um padrão determinado mudavam em função da experiência. Quanto mais grave fosse o acidente ou enfermidade que causaba a EQM do ponto de vista convencional, mais profundidade e amplitude tinham as fases. Por vezes, alguma fase não se manifestava. As obras publicadas com posterioridade assim como os resultados de estudos realizados por distintos expertos tambem apresentavam o mesmo padrão. As fases que precedem a fronteira da morte são as seguintes:

  • Sensação de bem-estar e paz
  • Experiência extracorpórea na que se percebe como a consciência ou alma deixa o corpo físico. Neste caso, a pessoa que o vivencia poder ver o seu contorno ainda que as constantes vitais sejam ausentes. Após a EQM confirma-se que o que se percebeu foi real.
  • Aparição dum túnel com uma luz no seu final.
  • Encontro com familiares ou pessoas mortas. Por vezes ajudam a transitar até a luz. Têm-se registrado casos de pessoas que visualizam familiares ou pessoas sem saber que estavam falecidas até o contrastarem após a recuperação e o retorno ao corpo físico.
  • Visão dum espaço sobrenatural e paradisíaco com uma natureza de imensa formosura. Por vezes também se audível uma música celestial.
  • Visão duma entidade ou ser de “luz” manifestando-se quer como luminosidade quer como uma entidade antropomórfica. Sentimento de amor e sabidoría.
  • Retrospeçao vital ou resumo da vida da pessoa em segundos, trascendendo os limites espaço-temporais ordinários.
  • Flash forward, quer dizer, visão de acontecimentos futuros na vida da pessoa.
  • Visão duma fronteira. A pessoa têm a perceçao de que no caso de trespassa-la não poderá voltar ao corpo físico.
  • Regresso ao corpo. Muitas vezes as pessoas sentem uma grande deceção por voltarem à vida após passarem um processo de paz e bem-estar tão intenso.

Existe uma reação dum certo ceticismo desde o reducionismo biológico para negar a veracidade ou trascendência destas experiências. Tenta-se explicar o bem-estar por meio da libertação de endorfinas, a visão do túnel pela redução da atividade das sinapses (conexões neuronais) que o projetam, a retrospeçao por meio de memória inconsciente e valoriza-se o demais como simples elucubrações da mente. Reduze-se tudo a simples alucinações causadas pela falta de osigênio ainda que na verdade não se pode explicar o fundamental. Porquê a conciência é mais lúcida do que nunca? Porquê o relato das visões extracorpóreas (inclusivamente em pessoas cegas!) coincidem com os acontecimentos reais? Porquê o dito por alguns familiares mortos se cumpre? Aliás, como é possível que a consciência exista fora do corpo?.

Citando ao filósofo e neurologista Alva Nöe; “ A investigação neurocientista da conciência sustenta-se atualmente sobre umas bases não questionadas, mas muito questionáveis,(...). A consciência não acontece no cérebro.(...). Portanto, não é a atividade neural associada à que determina e controla o carácter da experiência consciente.(...). Seria absurdo procurar correlatos neurais na consciência.(...). Não existem ditas estruturas(...). Esta é a razão pela quealnão fomos capazes de dar uma explicação válida à sua base neural(...). A ideia de que somos o nosso cérebro não é algo que os cientistas apreendessem, mas um prejuizo que os cientistas levaram ao lugar de trabalho desde casa.”

Reconhecidos neurocientistas como Charles S. Sherrington e John C. Eccles, ganhadores do Premio Nobel e o neurocirurgião Wilder Penfield acham que o cérebro é mais um organismo complexo que regista e transmite a conciência do que um ente que a produza.

A consciência é para muitos estudiosos um fenómeno que tem a ver com as realidades investigadas pela física quántica. Não é por tanto um fenómeno material tal e como o percebemos, nem o resultado de reações físico-químicas.

Partilho o meu modo de ver com os cientistas que afirmam que o cerebro é um recetor de consciência, um “aparelho” recetor como pode ser uma rádio ou uma televisão. Acho que a consciência tem a ver com um espaço não-local que transcende os limites do espaço-tempo. Citando ao cardiologista e investigador das EQM, Pim Van Lommel: “O espaço não-local constitui algo mais do que uma descrição matemática. É um espaço metafísico no que a consciência pode exercer o seu influxo porque possui propriedades subjetivas de consciência. Segundo esta hipótese, a consciência é não-local e funciona como origem ou base de todo, incluído o mundo material. Desenvolvi uma hipótese que segue como resposta aos episódios de consciência expandida experimentados durante um ataque cardíaco. Esta consciência expandida supõe aspectos de interconexão não local(...). Oferece a possibilidade de comunicar-se com os pensamentos das pessoas envolvidas em vivências passadas ou com a consciência de amigos e parentes falecidos. Aliás, pode ver-se acompanhada dum sentimento de amor incondicional e aceitação, assim como de um contato com uma forma de conhecimento e sabedoría definitiva e universal(...), a consciência completa e infinita com lembranças acessíveis tem as suas origens no espaço não local, em forma de funções de onda indestrutíveis e não observáveis de forma direto(...). O cérebro e o coração funcionam simplesmente como uma estação de transmissores que recebe parte da nossa consciência global e parte das nossas lembranças na nossa consciência de vigília baixo a forma de campos eletromagnéticos mensuráveis e em constante câmbio. Os campos eletromagnéticos do cérebro não são a causa, mas o efeito da consequência da consciência infinita”.

Acrescentamos que a aceitação da imortalidade da consciência implica outra das crenças mais antigas e universais que existia entre os druídas: a reencarnação. Há muitos casos de pessoas que apos uma regressão visualizam a sua vida passada e depois de investigar certos acontecimentos históricos locais, confirmam a veracidade da sua visão. Também há grande quantidade de casos de meninos que lembram com exatitude a sua vida passada, realidade que demostraram identificando com exatitude as suas anteriores pertenças e lembranças de certos lugares.

Com a minha própria experiência e as minhas pesquisas (nada novo) cheguei a conclusão de que o padrão comum das religiões está na interação com o espaço não-local, tendo a ver a existência de muitos mitos com as chamadas realidades não-ordinárias (Stan. Grof). Desde os primórdios, os xamãs tiveram acesso a outras realidades por meio do emprego de técnicas extáticas, quer dizer, induzindo estados alterados de consciência. Este tipo de estados mentais induzidos de forma exógena ou endogenamente, permitem a ativação ou contato de certas áreas do cérebro, o qual podemos verificar cientificamente e que ao meu ver permitem “sintonizar” como uma rádio, outras realidades que a maioria das pessoas não podemos perceber. Entre outras cousas, o contato com as ânimas foi e é uma realidade testemunhada no transcurso do tempo. Os estados alterados de consciência têm também muito a ver com a realidade que apresentam as EQM. A través do tempo, este tipo de experiências foram a cosmogonia das realidades religiosas ou espirituais, realidades que foram exprimidas na linguagem das múltiplas crenças ao largo do planeta.

Nas crenças célticas e galegas existem muitas similitudes com as fases das EQM e evidências da irruçao das realidades transpessoais. Alguns exemplos são os seguintes

  • Entidades psycopompas(condutoras de ânimas ao Além): Há uns meses foi publicada uma entrevista neste blogue, feita a um homem que têm a capacidade de percebir essas outras realidades. O meu amigo “Lobo de Lugh” contava deste jeito uma experiência própria que têm muito a ver com uma EQM: Poucos dias após a chegada, caí doente e o médico de Santarém que foi chamado para me ver, disse não perceber o porquê da minha febre e conversou com os familiares, dizendo que não havia mais nada a fazer senão esperar. Como mais tarde me contou a minha criada Clementina, a que nos criou a todos e estava particularmente ligada a mim, eu falava que estava ali no quarto o meu Pai e uma Senhora vestida de branco. Dizia-lhe que tivesse cuidado ao andar pela habitação para não embarrar neles. Decidiram então que a Senhora era a Virgem de Fátima, muito em “moda” naquela época, 1950, e foi um carro buscar um garrafão de água bendita à Cova de Iria. Com essa água, a Clementina deu-me um banho e, a partir desse momento, comecei a arribar e fiquei bom. Logo foram feitas promessas, rezadas missas, benzeduras pelo cura da terra. Mas a Clementina sempre me disse que quem me tinha curado tinha sido a Senhora da Fonte, e que eu devia, um dia, ir à fonte agradecer-lhe. Fi-lo muitos anos depois”. Esta é ao meu ver a descrição dum “arquétipo”, o da deusa branca e psycopompa do Além. A fermosa Moura que chegada do Além pentea os seus cabelos com um pente de ouro. A mesma deusa céltica relacionada com as plêiades a que os guerreiros lhe levavam um pente de agasalho tal e como nos aparecem em algumas tumbas. Deusa que aliás é tripla como As Tres Marias, brancas, relacionadas com o Cinturão de Orióm e que segundo as crenças galegas se aparecem aos moribundos. A mesma que mais tarde se pôde associar à virgem. Porque finalmente, são distintas nomenclaturas para descreiber uma mesma realidade. Também não me esqueço de Bândua, outro importante ajudante na última viagem.

  • Experiencias extracorpóreas: Na Galiza existe a crença nas ânimas de vivos: A sociedade do Osso. Este tipo de ânimas são uma nomenclatura do corpo astral ou ânima, que é capaz de deixar o corpo em vida para voltar depois. Tal e como acontece numa EQM ou como capacidade que algumas pessoas afirmam ter.

  • Música celestial: Na Galiza os encantos e as entradas ao mundo dos Mouros, isto é, ao Além, são anunciadas com uma música celestial. Por vezes mesmo de gaiteiros.
  • Espaço sobrenatural paradisiaco: Os Immrama e as Echtra célticas, assim como a entrada no mundo do Sidh, descrebem viagens ao Além. O padrão comum é similar ja que por vezes aparece uma mulher ou animal que incita a fazer a viagem, faz aparição uma música celestial ao tempo que se chega a uma terra paradisíaca que é o outro mundo (Tir na nÓg, Tir Na Ambam, Avalon etc.). Ao regressar ao nosso mundo descrebe-se uma diferença temporal, de formq que o espaço-tempo do Além não é o mesmo do que o do mundo dos vivos. Acostuma-se dizer que uns segundos no Além podem ser anos no nosso... Lembremos a inexistência da passagem do tempo no espaço não-local. Por vezes, o que chega ao paraíso do Além não pode voltar, o qual, talvez pode ser uma evidência de ter passado a última fronteira descrita nas EQM.

Temos de lembrar que na Galiza, o equivalente do mundo do Sidh é o Mundo dos Mouros (do céltico mrwos,mortos). O Além, com maiúscula.
Convido ao leitor a ler relatos das Experiências de Quase Morte e fazer uma comparação entre esses relatos e os mitológicos galaicos ou célticos para ver o que acham. Porque ao meu ver, os relatos célticos estão a nos falar de viagens a essa outra realidade numa situação limite ou durante um transe extático.

A VIAGEM DE BRAN, FILHO DE FEBAL

Um dia, quando o jovem Bran, filho de Febal, se passeia pelo jardim da casa real, escuta uma música de tanta doçura que lhe provoca o sono. Quando acorda aparece-se-lhe uma belíssima dama extranhamente vestida, que leva uma maravilhosa pola de maceira, de cor prateada nas súas maos. A mulher descrebe com melodiosos cânticos o esplendor e as delícias incomparáveis do mundo situado para além do oceano ocidental com as suas formosas ilhas, onde moram milhares de jovens e belas mulheres, a sua música celestial e uma completa ausência de perigos e traições, penas, enfermidades e a mesma morte, pois lá eram desconhecidos. Ao dia seguinte, Bran embarca-se com tes companhias de homens cada uma, e depois de dous dias e duas noites de navegação acham ao deus marinho Manannan Mac Lir (psycopompo), que viaja sobre os mares no seu carro de combate com dous cabalos e duas rodas. Conversam, e Manannán, com os seus grandes poderes mágicos transforma os mares e os peixes numa verde chaira com rebanhos de animais do país prometido. Posteriormente seguem o seu caminho para máis adiante chegarem a Ilha da Felicidade e depois a Emain, a Ilha das Mulheres, onde são recibidos por uma dama que os acomoda em camas. A cada um deles com uma bela e jovem doncela. Apetitosos manjares e bebidas, música, cantos, festas e divertimentos fazem a vida doce e pracenteira. O tempo passa assim, docemente mas a eles parecia-lhes que transcorrira um ano quando na verdade pasaram muitos mais. Um día, um deles sente-se afligido por uma grande morrinha e veementemente consegue convencer ao Bran para realizarem uma visita a Irlanda, o seu antigo país. A dama advirte-os de que lhes vai pesar enormemente e que em qualquer caso, se decidirem ir, que não ponham o pé na terra. Ao chegarem a costa da Irlanda, acham uma grande assembleia. O Bran apresenta-se desde o barco e eles dizem não conhece-lo embora tiveram ouvido falar da Viagem de Bran aos Filedda (narradores de contos orais). O homem morrinhento salta à praia mas ao tocar com o pé na areia converte-se em cinzas, como se tivesse morto lá há centos de anos. O Bran relata então as suas aventuras, depois escrebe-as em verso, em ogham, sobre umas peças de madeira que deita na praia. Despede-se e desde aquel momento nunca máis se soube dele nem das súas aventuras...

Lembre-se que nos dias do presente mês de novembro as portas do Além vão aparecer abertas, e receberemos e conviveremos com os nossos devanceiros. Aa lúa cheia há de ser o momento de máxima apertura e esta aqui.Se não os podeis ver, abri os olhos do coração e da alma. É preciso dignificar e recuperar o seu legado e a súa profunda verdade. Mantenhamos a fogueira acesa.

Bom Sámanos a todos.


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