terça-feira, 21 de maio de 2013

Uma visita à capital do Império


Por Carolina Horstman e José Manuel Barbosa

O 17 de maio foi muito longo. Acordamos por volta das 5:00 horas da manhã porque a viagem exigia pontualidade, preceito que cumprimos quase escrupulosamente. Almoçamos algo ligeiro para podermos com o corpo, tomamos um duche e vestimo-nos a uma velocidade que não seria normal num dia do comum. O carro aguardava-nos na garagem depois duma semana de muito trabalho. Saímos e sem demoras nem pausas entramos na autovia Ourense-Santiago onde viajamos com pouca equipagem: uma mochila com roupa, a minha saca do diário onde levo as cousas pessoais e uma sacola. 

O aeroporto estava cheio como sempre mas ainda assim e depois de arrumarmos num lugar fácil arranjamos as cousas para podermos estar no avião no tempo previsto. Sempre me surpreendeu o controlo que ultimamente gastam antes de entrarmos no aparelho. Controlo que significava que tivesse que tirar as minhas botas, o casaco, o cinto e todo o metal que eu levava no corpo para eles saberem se é algo que possa ocasionar perigos a este sistema em descomposição...Não sei a que lhe temem. Vão cair, controlarem ou não.

Passadas as 10:30, fora do horário previsto, chegamos a Barajas. Ali nos aguardavam o nosso amigo José André Lôpez Gonzâlez e a sua filha Íria que nos iam conduzir por aquele labirinto que é a capital do Império Pequeno. Com muita amizade e amabilidade o José André saudou-nos e fez de guia pelo caminho. A conversa sobre a língua, sobre a história e sobre a política do nosso País foi obrigada. Chovia e ninguém diria que aquilo era Madrid, só os topónimos arabescos e castelhanos estavam a nos dizer que estávamos na velha Al-Andalus. Era o antigo Al-Magrit "o mercado" em árabe, o que nos acolhia. 

O José André e a sua filha Íria levaram-nos até Alcalá de Henares, onde fizemos um lindo passeio pelas ruas da vila. Alcalá ou talvez Al-Kaláh, a fortaleza em árabe....

Vimos as pegadas árabes e judaicas, vimos os edifícios de tijolo, as ruas da parte velha duma formosura muito especial. Visitamos a casa onde supostamente nasceu Miguel de Cervantes, o escritor de origem galega do Quixote, vimos os palácios que nos transladavam no tempo a épocas dos Reis Católicos de infeliz memória para os galegos, o palácio do arcebispo, o pelouro onde os réus cumpriam pena pelo facto de serem muçulmanos, ou judeus, ou protestantes ou simplesmente por serem contrários à política da Monarquia Hispânica... A beleza era uma cousa mas a memória daquela intolerância tão castelhana era outra.

Depois dum longo passeio fomos comer a um restaurante do bairro próximo ao local onde eu ia palestrar. Era a "Associação Galega Corredor do Henares" e no seu nome, o seu Presidente, José André, quem nos tinha convidado para falar d'A Pré-História da Língua e ali chegamos cansados depois dum dia intenso. Também ali estava Iago Rios, quem ligou para nós e arranjou todo o necessário para nós estarmos ali esse dia a essa hora. Nós felizes.

Quando chegamos vimos o formoso local que tem esta associação, que reúne a muitos galegos residentes em Alcalá e nos arredores, quer dizer, no chamado "corredor do rio Henares", e pudemos comprovar como as atividades eram inúmeras: canto, baile, pintura, música, publicação da sua própria revista, palestras, etc. A professora de pintura do local, nativa de Guadalaxara mas vinculada à associação desenhou um "apalpador" motivo de orgulho para o nosso amigo José André por ser ele quem o popularizou nos últimos anos na Galiza.

A nossa presença ali era por ser um 17 de maio, o dia das Letras Galegas e decidiram celebrar o dia falando da língua, da sua história, ou mais concretamente da sua pré-história. Algo que temos trabalhado um bocadinho.

A palestra foi a partir das 19:00 e acho que antes das 20:00 já tinha acabado. Depois, umas peças de música galega, uns bailaricos e uns petiscos nos aguardavam para além da conversa com os amigos presentes que se sentiram atraídos pela temática. Gente interessante, trabalhadora, emigrantes que amavam e amam a sua Terra deixada atrás porque há que trabalhar onde há trabalho. Amor à Terra, morrinha, saudade e desejos de voltar a ela. Vínculo e raiz ainda tendo nascidos alguns na diáspora. Galegos de sangue, de sentimento, de coração...

A nossa retirada para o Hotel foi imediata depois da pequena festa. O sono e o cansaço eram mais poderosos do que a fome. Para ingerir alimentos já teríamos tempo o dia seguinte que também se apresentava longo mas o descanso fazia-se urgente. Levaram-nos ao Hotel o José André e a sua companheira e ali ficamos onde não demoramos muito em pegar no sono...por pouco tempo, porque às 4:00 já estávamos novamente acordando para apanharmos o vó para a Galiza que saía às 6:45. 

A chegada a Santiago não se fez aguardar muito. Chovia e fazia sol à vez na nossa capital o que convertia aquela manhã de sábado num lindo jogo de luzes e sombras próprias dum formoso quadro impressionista..."Quando chove e faz sol casam a raposa e o raposo" dizia a minha avozinha. Almoçamos num bar próximo à ferradura e decidimos dar uma volta pela cidade aproveitando o jogo de luzes com o fim de nos mergulharmos na energia da nossa Terra Galega. Apanhamos o carro e voltamos para a casa. Ali nos aguardavam o nosso Lucas, o nosso inteligente mastim e o David que ficou na casa guardando do nosso guardião. Fomos comer churrasco perto de Chantada e ao chegarmos à casa, por volta das 17:00 horas, apanhamos a cama e dormimos seguido até o domingo as 8:00. Quinze horas de sono. Não esteve mal.
Um fim de semana completo, intenso, lindo, pelo qual agradecemos ao Presidente da Associação Galega Corredor do Henares José André Lôpez Gonçâlez, a sua esposa Carmen, a Iria a filha de ambos e ao Iago Rios....... e obrigado a todos os amigos e amigas galegxs de Alcalá por tão lindo fim de semana, pela sua companha, pela sua atenção e pela assistência à nossa humilde palestra, especialmente a Javier Franco. Aguardamos nos vermos novamente.
A pré-história da Língua 1
A pré-história da Língua 2

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Crónica das II Jornadas das letras galego-portuguesas




Por David Outeiro e José Manuel Barbosa

Foi o fim de semana de 11 e 12 de maio de 2013 quando mais de 70 pessoas nos reunimos em Pitões das Júnias para celebrarmos a irmandade e a camaradagem entre gente de ambas as margens da raia maldita. O nosso intuito era unir. Unir gente com a mesma língua, com a mesma vontade de viver, com o mesmo sentir, com a mesma história, com a mesma forma de fazer, de ser e de pensar, com os mesmos defeitos e as mesmas virtudes.... E conseguimos os objetivos.
Quando começamos a organizar este ano contavamos com que o sucesso fosse importante, mas a realidade superou muito os nossos cálculos até o ponto de vermos desbordar o copo e não termos um respiro. Teremos que pensar a forma de conter a maré de consciências galaicas que têm um mesmo foco de atenção.
Chegamos à casa do Padre Fontes quando passava um bocado das 12:00 horas. Dizem que os galegos nunca chegamos à hora....o mesmo se diz dos portugueses....mas o que tenho claro é que, como disse Gandalf  "um mago (nesta caso um galego) nunca chega nem demorado nem cedo; chega justo quando ele se propõe chegar". Ali vimos amigos velhos e vimos amigos novos. Os velhos alimentaram a amizade velha e os novos criaram uma que há durar no tempo. A comida sentados ao lado das pessoas deu as boas vindas a toda a gente que curiosa estava para ver como discorria a jornada. 
Fizemos poesia, rimos, falou o Padre Fontes e ficamos todos contentes. Dentro do horário previsto partimos para Pitões onde nos aguardava mais gente ainda que as cousas houve que prepará-las para os palestrantes poderem fazer o seu trabalho. Solucionados os problemas de som começou falando Rafael Quintia“Geografias míticas da Galiza e espaços hierofânicos. Mitos, rito e crença” foi o título e nele nos falou de como identificar espaços sagrados, lugares ancestrais e ocultos por milénios de esquecimento ou por causa da sua cristianização. Apresentou vários exemplos aos que hoje podemos recorrer quer como elementos ancestrais conservados a dia de hoje apesar dos séculos e do cristianismo e de sincretização, quer como crenças populares e/ou mitológicas que ligam diretamente com o nosso passado pagão e céltico. A palestra foi seguida por um publico interessado e curioso.

Posteriormente o artista gráfico António Alijó continuou falando de “Árvores e pedras mágicas do mundo celta.” Mais do que nada a palestra deu um debate no que participaram várias pessoas do público interessadas no tema. A base temática foi reafirmar a ideia de que há povos hoje que são o que nós fomos no passado que rendem culto às divindades relacionadas com a Terra, onde os xamãs ainda acodem às covas sagradas, com uma perceção do mundo que nós tínhamos há séculos...e estudando esses povos poderemos saber o que fomos. Estudando esses povos podemos apreender quem realmente somos e reformar e regenerar a nossa sociedade doente.
A poesia também fluiu nessa tarde do dia 11, assim como um roteiro pela aldeia de Pitões. 
A ceia na casa da Margarida e do Bruno, na Taberna Terra Celta foi o momento em que as cousas nos sobrepassaram, pois o número de gente fez materialmente impossível uma reunião de  todos os presentes num mesmo e único local. Ali acodiram novamente o Padre Fontes e o Presidente da Junta da Freguesia Sr. António Ferreirinha com quem desfrutamos da noite que acabava com a representação sentida do nosso amigo o Bruxo Queimam (em breve veremos imagens). Para alguns a noite continuou até o dia seguinte que começava o segundo dia.

O dia 12 foi igualmente completo do ponto de vista poético, científico e artístico. As palestras começaram fora de hora devido ao costume galaico de tomarmos as cousas com calma mas deu para completar o horário. Miguel Losada com a sua palestra intitulada “Os que termam do céu. Imagens da Sacralidade antiga ou quando o mundo era um templo.” Os arquétipos universais da religião apareceram manifestados nas diferentes culturas humanas e aplicados ao nosso mundo galaico e barrosão. Todos os povos têm um mesmo padrão cultural manifestado de diversas formas. Somos uma mesma humanidade com representações e estéticas diferentes. Símbolos universais humanos que são manifestados segundo o contexto cultural. Somos diversos dentro da unidade e essa diversidade devemos respeitá-la para a humanidade estar saudável....
Finalmente falou Santiago Bernárdez sobre “Os "Annála Ríoghachta Éireann" e as relações entre a Galiza e Éire na Idade Moderna”. O tema dava para muito e o desconhecimento que há sobre o tema é muito. Não temos muito conhecimento do relacionamento bélico entre tropas galegas defendendo interesses irlandeses contra o inimigo inglês em época dos Habsburgs. O paralelismo entre esses eventos históricos com os eventos míticos narrados no Leabhar Ghabhála Érren são evidentes e os vínculos posteriores às lutas irlandesas pela sua libertação com as chegadas de refugiados reafirmam essa ideia.
Finalizadas todas as palestras e com os momentos poéticos oportunos nos momentos de descanso tivemos a imensa sorte de poder contar entre o público com a conhecida escritora portuguesa Maria Clara Pinto Correia quem nos fez uma avaliação da situação do mundo atual, a passagem do tempo e a sua memória da sua passagem por Pitões. Acabada a sua intervenção fomos comer ao restaurante pitonês "Dom Pedro" onde depois de partilharmos lindas conversas entre as pessoas que nos conhecimos ali fizemos uma entrega de prémios a algumas pessoas como agradecimento pelos seus contributos às atividades do nosso grupo.
De tarde o grupo visitou o mosteiro de Pitões para depois darmos por finalizadas as II Jornadas das letras galego-portuguesas. Aguardamos umas terceiras.
Agradecemos imensamente à Junta da Freguesia de Pitões das Júnias nomeadamente a António Ferreirinha, António Cascais e Lúzia Jorge...sem esquecemos a Kátia Pereira, à Câmara Municipal de Montalegre, ao Bruxo Queimam pela sua atuação generosa para nós, ao Padre Fontes pelo seu apoio, recebimento e calor humano sempre manifestado para nós, aos palestrantes Rafa Quintia, António Alijó, Miguel Losada, Santiago Bernárdez e Clara Pinto Correia, também à Rádio Montalegre, a Margarida e Bruno da Taberna Terra Celta, aos Restaurantes "O Preto" e o "Dom Pedro", aos poetas Nolim Gonçalvez, Concha Rousia, Iolanda Aldrei, Henrique Dória, Alexandre Brea, Rafael Quintia, gente do público que também recitou, cantou e participou, ao público que nos acompanhou... e a todo o povo de Pitões.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

De delinquentes linguísticos e a logopédia necessária.





Por José Manuel Barbosa

Quando a dia de hoje uma pessoa de qualquer país da Lusofonia oficial e um galego têm de se comunicarem entre sí, podem acontecer várias cousas:

a)      Que o paleofalante galego sinta que percebe e pode ser percebido pelo seu interlocutor. Neste caso, o galego reproduz a sua fala dialetal local oferecendo uma margem de distância mínima que a dia de hoje pode não ajudar a total fluidez comunicativa entre as partes. Isto, até o século XX não acontecia, justo até o século em que a Galiza contou com uma versão normativizada da sua língua e uma política linguística que promocionou sempre uma língua “ausbau” diferente da de Portugal. Este relacionamento a duas partes, galego por um lado e português por outro, é o caso habitual que acontece no dia-a-dia nas regiões da raia galego-portuguesa onde nunca houve problemas de relacionamento nem nunca se sentiram “estrangeiros” os uns a respeito dos outros. A distância viria dada porque o português está formado numa língua padrão saída dum determinado centralismo lisboeta e o galego (mal)formado tanto em castelhano como em “galego”. Este caso está em vias de extinção, como indicou a UNESCO a princípios dos século, por serem cada vez menos os paleofalantes os que sentem o português como uma continuação das suas falas e por ser mais os portugueses (e outros lusófonos) os que sentem os galegos como mais uns “españoles” de fala castelhana, nos quais não há que confiar desconhecendo a nossa identidade comum.

b)      Que o galego, duma maioria cada vez menos minoritária, fale em castelhano. Nesse caso pode acontecer que o lusófono faça esforço por se adaptar ao outro parceiro, embora há de ser difícil que este último, se adapte ao primeiro, quer por um sentir xenófobo e supremacista incutido pelo castelhanismo, quer pela educação deficiente que na Espanha se ministra em relação às línguas, forem estas de dentro como de fora do Reino. Algo assim acontece nos países anglófonos por terem a ideia de que todo o mundo tem o dever de saber inglês...No Reino, considera-se uma cousa normal que os demais têm o dever de os perceberem em castelhano embora não à inversa sob pena de ser considerado um ignorante. A maior parte das vezes, o espanhol em questão está capacitado para perceber pela pouca distância linguística que há entre a deles e a outra mas finalmente acontece que é um problema de vontade. O espanhol não quer perceber...e o galego-espanhol como subproduto deforme e acomplexado que reproduz ridiculamente os hábitos “cañís” e por um elemento de mimetismo primate copia os comportamentos mesquinhos do modelo espanholista à moda, de caráter intolerante e impositor, fornecido pelos média embora com menos força do que os originários.
 c) Que o galego, quer paleo, quer neofalante, adopte a variante RAG na sua conversa com o lusoparlante. Neste caso o resultado final vai ser que este  perceba a fala do galego como um péssimo português ou que é um espanhol que tenta fazer esforços por falar português. Nesse caso para favorecer o relacionamento acaba por tentar ele falar em castelhano. Ainda assim....o galego-RAG pode insistir na proximidade linguística galego-portuguesa o que resulta absurdo para o lusófono que percebe a fala do galego como uma trapalhada que não há por onde apanhá-la.

Estes são três dos quatro casos possíveis que se podem dar. O que ninguém fala é das circunstâncias que levam a estas irregularidades intercomunicativas, tendo em conta que nem os políticos nem os linguistas que fazem parte das administrações galegas ignoram que as falas galegas e luso-brasileiras fazem parte do mesmo diassistema linguístico... e quando digo que eles “sabem” isso, não estou a dizer que “acreditem” ou que “tenham uma ligeira intuição”. Digo simples e diretamente “sabem” com tudo o que isso implica e compromete.
A pesar de tudo, a princípios dos anos 80 e por decisão política, os responsáveis da administração optavam por oferecer ao administrado galego uma versão normativa para a sua língua que facilitava (e ainda facilita no presente) a distância e favorece o mais alto grau de incomunicação entre galegos e o resto dos lusófonos. Essa versão foi aplicada por decreto para ser aplicada em aqueles âmbitos da vida fulcrais para incutir a ideia de diferença, como é o caso do ensino à vez que faziam orelhas moucas à discrepância legítima de tal forma que nenhum professor pudesse fugir de tal despropósito, castigando a todos aqueles que no exercício da sua liberdade de cátedra optassem por querer transmitir aos alunos uma ideia de identidade linguística galego-portuguesa ou no mais duro dos casos uma versão útil da língua.
Os professores, mesmo não ensinando outra normativa diferente à imposta por um decreto nunca consensuado eram perseguidos, discriminados, desrespeitados como pessoas e sobre eles era exercido um subtil “mobbing” dificilmente demonstrável entre outras cousas porque o claustro de professores do centro de ensino apoiava a ação, quer porque a sua formação linguística não permitia aceder a registos mínimos de conhecimento, quer porque a sua má formação humana e/ou ética os fazia incapazes de frear a ação agressiva contra o acossado, quer por medo a que sobre eles caísse também a repressão. 
Uma outra forma de “mobbing” que não afetasse diretamente à administração era deixar que o protesto “anti-lusista” fosse levado a cabo pelos país das crianças que sentiam que um “lusista” não ministrava as suas aulas como era o convencional. Nestes casos a equipa diretiva ou o claustro lavavam-se as mão de cara ao afetado mas encirrava aos pais ocultamente para apagar a dissidência. Tudo isto sem informar a ninguém que os professores possuíam e possuem legalmente o direito à liberdade de cátedra e que ainda um artigo da Constituição espanhola garante na teoria a não discriminação por qualquer circunstância pessoal e social...e portanto por qualquer razão linguística o que faz que não exista legalidade que defenda uma discriminação por razões de normativa linguística a usar com qualquer língua oficial.
Alguns casos foram muito sonoros na Galiza dos 80 e dos 90, épocas muito obscuras de regressão linguística em Galiza. Lembro dous casos especiais por se saltarem todas as linhas vermelhas do silêncio, do ocultamento  e da censura. Foram protagonizados e sofridos pelos professores Mário Afonso Nozeda e Jesus Sanches Sobrado. Este último reformado ao pouco tempo de começar a trabalhar por causa dum ambiente laboral totalmente hostil  que o levou a uma situação de estress por “mobbing”.

Por outra parte, e deixando o acosso favorecido pela administração ao que sempre estivemos submetidos os defendores da língua na Galiza, temos que acrescentar que a forma em que as aulas de “galego” se dão ainda nos dias de hoje é própria duma administração que não se importa em deformar às crianças e aos adolescentes, contrariamente ao cometido último que tem o ensino, que é formar e informar (não deformar).
Existiu sempre uma ampla percentagem de professores que não consideraram como opção válida a de começar o ensino da lecto-escritura das crianças na sua língua raiz. Cousa nunca combatida pela administração galega e mesmo impulsionada desde a “Xunta”. Nenos e nenas galaico-parlantes apreenderam e apreendem a ler e a escrever em castelhano, vendo o seu idioma relegado aos usos mais coloquiais ou simplesmente deixando-o para assuntos menores. Muitos professores são mal formados linguisticamente, com índices de conhecimento da realidade socio-linguística deficientes, com prejuízos anti-galegos ou que consideram a língua do País como um elemento de menor importância na formação dos alunos. A causa provém da sua formação universitária originada nos planos de estudo que incutem esses defetos aos futuros professores. Da administração galega parte a permissividade a considerar normal atentar contra a integridade moral e psicológica de um companheiro se este mostra sinais de “lusismo patológico” ou qualquer outro desvio legítimo em qualquer país democrático, à vez que se defende hipocritamente a liberdade do professor a saltar-se toda regra pedagógica de educar a um aluno na sua língua e de negar ao aluno o seu direito de ser formado na sua língua. 
 Na Galiza, como comentava há uns dias no PGL Fernão Portas estão-se a incumprir os dous princípios básicos do ensino quando neste há duas línguas presentes (português e espanhol....ou galego e castelhano se quisermos): “misturar e não marcar fronteira” favorecendo nos alunos o atrapalhamento linguístico podendo levar à necessidade da logopédia em alguns casos que optarem por usar a língua em público. Curiosamente aqueles que optam pelo logopeda para poderem sair num meio de comunicação público são “re-educados” para poderem falar corretamente o castelhano....nunca a língua dos galegos.
É a vontade da administração fomentar a bablização nos galegos em vez da competência nas duas línguas, cometendo um grave delito, talvez não só moral, pois demonstrada a sua intencionalidade de atrapalhar à sociedade investindo grandíssimas sumas de dinheiro público em “normalizar” o galego se obtenha como resultado final a mais alta deserção da língua nos últimos trinta anos dos últimos cinco séculos. Dito de outra forma: houve mais desgaleguizados e castelhanizados desde 1980 até hoje do que entre 1480 e 1980. A perda foi de mais dum 30% desde que chegou o PP à “Xunta” autonómica. Não são os meus dados, são dados das Universidades Galegas, das Instituições (a)normalizadoras dependentes da “Xunta” e da UNESCO.
Esta sociedade leva já muitos anos seguidos sob um regime de ignomínia, abuso, desnacionalização e corrução de todo tipo que afeta a todos os aspectos da vida dos galegos, nomeadamente a parte linguística que é da que estamos a falar, e nunca ninguém denunciou perante a justiça galega, espanhola, europeia ou internacional  a situação que vivemos de genocídio cultural, económico, evidentemente linguístico...e com a emigração favorecida pelo poder, também me atrevo a dizer que genocídio étnico. Este genocídio é subtil e em parte consentido pela ignorância e a estupidez de muitos mas também pelo colaboracionismo de outros que bem mereceriam que a justiça também caísse sobre eles. Por isso os políticos no poder desde os aos 80, momento em que se constituiu a infelizmente denominada “Comunidad autónoma Gallega”, são uns delinquentes só um ponto por baixo dos grandes genocidas da história. O único que os diferencia é que estes últimos recorreram ao sangue, à guerra e ao fogo...os nossos não precisam disso porque há muitos galegos que os votam e que favorecem a bastardia moral e política de quem leva a cabo o processo.
Falávamos acima de três dos casos nos que um galego e um lusófono poderíam interagir comunicativamente. Há um quarto caso...:
  d) O galego tem consciência de falar a mesma língua do que o outro lusófono. Nesse caso a comunicação é fluída porque a inteligência desse galego faz com que a sua fala seja mais próxima, compreensível e universal sem deixar de ser galego. Em vez de usar “irmán” usa “irmão”; em vez de usar “oir” usa “ouvir”; em vez de usar “caer” usa “cair”, em vez de usar “dicir” usa “dizer” em vez de acabar certas palavras em “-ble/bles” acaba em “-vel/veis”; em vez de usar a terminação “-ción/cións” usa a “-ção/ções” comum a todo o universo galego-português que não por perdida na fala diária é menos galega. Também provavelmente recupere a sua fonética com o uso do sesseio tão legítimo como qualquer outra forma absolutamente galega e limpando um elemento fónico de origem castelhana como é o denominado “cetacismo”... Um galego reintegracionista pode andar com o seu galego pelo mundo, pelos organismos internacionais sem sair da sua fala matriz. A sua fala é reconhecida como uma das mais importantes e sucedidas da humanidade, é respeitado e dignificado por distinguir corretamente o seu galego(-português) do castelhano e não seguir o fomento da mistura ensinado nas escolas e liceus galegos...e o que é melhor de tudo é que esse galego reintegracionista nunca deixa de falar galego quando usa a versão internacional da língua. Com essa forma de apresentar as cousas saberá falar corretamente a sua língua sem castelhanizá-la e se quiser falar castelhano poderá falá-lo também sem interferências. Os logopedas não serão necessários mas sim talvez um tribunal de justiça, não sei se nacional ou internacional que julgue os mafiosos da língua por crimes contra a dignidade deste povo pelo qual nem deixaremos de lutar nem renunciaremos de pertencer a ele.


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