quarta-feira, 25 de abril de 2012

Língua materna e Aprendizagem.


Por Mabel Pérez

Embora não seja fácil definir "língua materna", podemos considerar linguagem materna àquela que uma perssoa tem diretamente ligada à sua cultura de origem, a que representa a realidade que há ao redor, a que nomeia a realidade na que vive, independentemente de quem tenha sido a pessoa ou grupo que a tenha transmitido.
Devemos conhecer, falar, compreender e respeitar a língua mãe, porque se não respeitamos e fortalecemos a nossa língua, ela corre o risco de que se deixe de falar e mesmo chegue a desaparecer. 
 No artigo 23 da Declaração Universal dos Direitos Linguísticos indica-se que "todas as comunidades linguísticas têm direito a usar a sua língua, manter e promover em todas as expressões culturais", por isso temos de defender o direito de falá-la e aprendê-la. Por isso neste artigo vamos tentar mostrar que a língua mãe serve para nos comunicarmos e para conhecermos a realidade do nosso contorno com uma panorâmica que atinge as nossas origens com as palavras que representam essa realidade. Mas não esqueçamos que a nossa língua, a nossa língua materna, também serve como um veículo para a expressão de ideias, preocupações e sentimentos que fazem parte duma realidade diferente às outras. A nossa realidade  que nomeia o mundo duma maneira diferente.
 A língua galega, língua materna dos Galegos e Galegas é o resultado da derivação da língua latina que os romanos trouxeram ao Noroeste da Península mas a contribuição das línguas anteriores à colonização romana (línguas de substrato, isto é  um estrato chamado "Antigo Europeu, pré-céltico ou para-céltico ") e depois (línguas de superstrato, línguas que se superpuseram após a fragmentação do Imperio Romano). Aliás no galego entraram também palavras de empréstimo de outras línguas românicas e não românicas, muitas vezes  através do castelhano, devido á colonização linguística á que é submetida a Galiza desde o Medioevo.
A nossa língua tem um substrato indo-europeu que se remonta á Idade de Pedra, isto sabémo-lo por  palavras de origem indo-europeu que são ainda são conservadas hoje e permanecem também no ocidente europeu e no Norte de África, vozes como "caracol","cosco"" gabanceira”,"queiruga” ou como as que têm a raíz "carr "(carrasco, carroucho).
Há outro grupo de palavras de origem hispano-caucásica, coincidentes em todo o sul europeu, de Galiza ao Cáucaso, como “coto”, “sobaco”, “morodo” ... e Tirrénica, com palavras comúns para a Península Ibérica, Gália e Itália: “touza”, “morea”, “barro”, “abarca”, “esquerdo”, “veiga” ...
Sabemos que as  nossas origens se remontam aos Oestrímnios, povo que deixou as antas e os dólmens preservados na Galiza de tempos pré-romanos e que foram expulsos ou assimilados pelos para-celtas que chegaram no ano 600 aC e que nos deixaram palavras como “cabana”, “pá”, cabaço”, “páramo”, palavras que designan a vida quotidiana das familias, ou nomes de localidades como: “Beasque”, “Viascão”, “Tarascão... ,até que os Celtas, no 800 aC. Instalaram-se no nosso território, empurrados de centro-europa pelos germanos. Esse povo celta foi o que os romanos chamaron "Gallaeci" (Galegos).
Já no léxico comum do galego são palavras celtas os nomes das árvores: “vidoeiro”, “amieiro”..., de plantas: “brusca”..., da agricultura: “colmo”, “embelga”..., as “chedas” e as “cambas” do carro..., nomes de animais: “rodabalho”, “careija”, “beiço”..., acidentes topográficos: “lama”, “lousa”, “laje”, “burato”.. da vida doméstica: billha, berço, tona, boroa..., os topónimos acabados em –obre que vem de –brix ( fortaleza): Baralhobre, outros como Crunha, ou nomes de ríos: “Límia”, “Deva”, “Sar”... 
Antes da chegada dos romanos, o nosso território era habitado por esses povos que falavam distintas línguas. Após a conquista romana, esses povos passaram, pouco a pouco, a falar latim, da mesma forma que também adoptaram a cultura e o tipo de sociedade romanas. Mas estas línguas anteriores ao latim, também achegaram algo ao galego, especialmente no campo léxical, em vozes que são referidas a conceitos concretos, tais como nomes de animais, plantas, topografía, etc. e que seguem a representar a nossa realidade quotidiana, tanto no rural como no urbano. Depois do desaparecimento da Império Romano do Ocidente, outros povos, como os germânicos e os árabes também se instalaram na Gallaecia, mais não apagaram o latim galaico, aínda que deixaram alguma pegada da súa presença, sobre tudo no léxico comum e na toponimia. De origem germánica são palavras como : “roubar”, “branco”, “guardar”, “Allariz”, “Guitiriz” , etc.
A influência árabe foi pequena e, ás vezes, a incorporação duma palavra árabe ao galego não foi diretamente, mas por meio do castelhano. São arabismos: “açucar”, “azeite”, “acelga”, “alfinete” “alfombra”, ou a  interjeição “oxalá”. O que não se sabe com certeza é quando acaba o latim e começa o galegoportuguês, mas sim que nos séculos X e XI já é uma língua bastante bem estruturada e com umas caraterísticas de seu, aínda que o latim continuou a ser usado como única língua na escrita ainda durante muitos anos. Vai ser a partir do século XII quando a nossa língua  passe a ser usada na escrita, como também o fizeram as outras línguas românicas e se converta assim na nossa LÍNGUA MATERNA, berço da nossa cultura e representação da nossa realidade.
A língua materna é muito importante para a aprendizagem d@s estudantes, condiciona as  aprendizagens dos alunos, já que este é o fundamento do pensamento e define uma forma especial de olhar a realidade, organizar, ver e sentir a vida e o mundo que nos rodeia. Por isso é muito importante que professores e família sejan conscientes do papel tão importante que a língua galega tem na aprendizagem da criança e torná-lo visível. Aliás pode melhorar a sua utilização na escola e na vida diariamente.
Se promover e incentivar o uso do galego em alguns contextos, o fato de ter de escolher entre diferentes idiomas, dependendo das diferentes situações, desenvolverá mecanismos cognitivos que podem ser aplicados para resolver problemas em outros contextos. Além disso, o uso na aula da língua galega pode ser, em determinados momentos o fío condutor das relações inter-pessoais, inter-sociais e inter-disciplinares, já que como vimos acima , a realidade do nosso país nomeia-se com palavras próprias da nossa língua, diferente da realidade que mostra o espanhol.
A língua espanhola é uma imposição, que como o latim, é uma realidade estranha, embora seja verdade que a coexistência de ambas as línguas gera uma série de interferências linguísticas interferindo-se mutuamente. Assim é que existem realidades galegas que não podem ser suplantadas pelo castelhano: quem leva a criança no "regazo" e não no “ colo” ? quem em áreas rurais  usam formas de espanhol para representar o seu trabalho diário?, que alun@s da nossa escola vivem com a realidade espanhola e a súa  esfera de influência para além da súa realidade? e daquelas palavras que empregan os seus maiores? Conhecem a realidade doutro modo que não seja a través de palavras galegas?
A língua da Galiza é o galego, e representa a própria Galiza, a Galiza de sempre, dos antergos, o mundo que nos rodeia. Como professor@s, devemos compreender que educar na realidade, ser educado no mundo que nos rodeia, é sentar as bases para a aprendizagem posterior, que o enriquecemento cultural, social, linguístico, passa-se por ensinar a partir das raízes, a partir da língua materna. A partir daí, podemos extender esse conhecimento a outras línguas e outras culturas. De não fazermos assim, veremos a nossa língua condenada ao ostracismo no que já esta em parte, graças a governos galegos como o actual. Não apenas mataremos uma língua e uma cultura, mas cairão gerações de galeg@s na pobreza cultural. Dum ponto de vista da aprendizagem veremos maior dificuldade com aquilo que é estranho para nós do que com aquilo que para nós tem uma base sentimental.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito interessante este artigo, e por incrível que pareça, só me dei conta de que não era português (brasileiro ou de Portugal) a partir de uma palavra no segundo parágrafo, pois é muito, muito parecido (claro, o português surgiu na Galícia). Acho que essa forma do galego que você escreveu deva ser a mais próxima do português, pois é, de fato, incrivelmente idêntica. Saudações do nordeste brasileiro! Clara

José Manuel Barbosa disse...

Se não se deu conta de que era português é que provavelmente é português.... Não existem línguas diferentes que sejam tão iguais porque então já não são diferentes. Saudações e um forte abraço desde a Galiza. ;-)

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