terça-feira, 11 de outubro de 2011

A Mudança de Paradigma 3ª Parte: Porque isto é assim? Conclusão


Por José Manuel Barbosa

Porque isto é assim?

Para o castelhanismo a funcionalidade deste paradigma é político-ideológico. Com esta forma de contar as cousas, o histórico imperialismo castelhano procura justificar a sua hegemonia na península e para isso não lhe é obstáculo falsificar a história, tanto mais se a Galiza foi quem chefiou originariamente o projecto de unificação peninsular que hoje leva sobre si a própria Castela com o nome de Espanha.
Fomos concorrentes e mesmo -acreditam-, ainda poderíamos sê-lo se nos identificarmos com o mundo português e lusófono já que por aí viria um acréscimo de forças que como mínimo fariam que Castela visse em perigo a sua hegemonia peninsular.

Essa manipulação de factos históricos, essa forma de fazer da Galiza um ninguém é uma maneira de desidentificação com ela própria e com a sua família etno-linguística para debilitá-la e mesmo anulá-la.

Tumba de Rodrigo Ximenes de Rada 
Castela hoje é forte na península e nunca por parte dum português deveria haver um ideia iberista, porque com isso joga Castela para continuar o seu labor assimilador. A força de Portugal, o que ainda fica daquele projecto nacional galaico, estaria em debilitar Castela e essa debilidade está na aliança com a Galiza e o galeguismo. Isto, juntamente com estreitar laços de amizade e colaboração com outros povos da península ainda não castelhanizados fariam com que o hegemonismo castelhano não chegasse muito para além

      Conclusão

Se a Galiza se identificar linguisticamente e mesmo historicamente com os povos que conformam a sua família faria com que as forças tornassem a ela. Isto só nos ia trazer benefícios de todo tipo: políticos, económicos, sociais, culturais... por isso devemos saber agir com uma estratégia adequada mesmo sem poder político galeguista na Galiza que poderia tornar às nossas mãos mercê a essa inércia e sinergia. Qual seria essa estratégia?

a-      Ligações com o mundo céltico que reforçassem a ideia de Matriz da mesma e partilhando interesses atlânticos. Isso ligar-nos-ia com as Ilhas Britânicas e não só o mundo céltico, mas também o mundo anglo que a dia de hoje é o mais poderoso do planeta.

b-  Ligações com o mundo lusófono, com a galeguia, da qual também somos Matriz. Também isto achegaria benefícios já que pela nossa língua e os nossos recursos humanos estaríamos muito bem situados em relação a outros povos em vias de desenvolvimento. Para os galegos, a nossa fala deixaria de ser uma fala regional para ser a Matriz duma civilização com o que isso traz de beneficio. A riqueza material, e não só espiritual que a nossa língua ia trazer seria muito grande em relação com a que nos traz hoje e mesmo a que lhe traz a outros povos e outras língua que ainda com grande dignidade não têm o número de utentes que tem o português. O nosso relacionamento não seria o duma região periférica, mas de ônfalon à par de Portugal e Brasil com a força suficiente para evitarmos agressões culturais às que hoje estamos expostos e ainda com o futuro duma lusofonia que joga a ser potência mundial da mão do grande Brasil.



c-      Dentro da Galiza haveria que estruturar a conformação político-partidária de forma inteligente criando formações políticas que atendessem todas as camadas sociais sem excepção. A dia de hoje, só uma formação política de esquerda é que pode agir com certo poder político na Galiza (e para isso limitado). É o BNG (Bloco Nacionalista Galego), mas este não pode concorrer pelo voto com o PP já que os votantes são diferentes sociologicamente. Por outra parte o BNG não poderia governar nunca só e menos com maioria absoluta pelas circunstâncias que actuam na Galiza. O BNG não tem aliados nacionalistas pelo que qualquer oposição seria sempre brutal e maciça. A necessidade duma formação partidária de centro ou centro-direita dividiria o voto da direita, deixando o PP com menos força, menos votos e menos representação não permitindo mais maiorias absolutas desta formação não defensora dos interesses galegos perante os do Estado. A falta de maiorias obrigaria a pactuar para governar e mesmo poderia dar-se o caso no que o nacionalismo com o tempo chegasse a ter maiorias que levassem o projecto nacional galego a uma maior e melhor viabilidade. O nacionalismo poderia andar com os dous pés recorrendo à aliança quando for possível e à discrepância quando for útil. Só assim poderia ser possível evitar dar passos atrás no que diz respeito dos direitos dos galegos, da língua... Poderiam ser mais fáceis os avanços na construçom nacional podendo conseguir novos marcos legais que obrigassem o castelhanismo a recuar e mesmo a construirmos novas entidades políticas que garantissem a soberania social, cultural, linguística, política e mesmo mental da Galiza. Poderíamos colaborar com outras nações da península com o fim de equilibrar forças e reduzir o castelhanismo e torná-lo humilde num contexto que sempre o fez soberbos. Poderíamos evitar racismos e xenofobias anti-galegas como há hoje no Reino da Espanha e ainda dentro da Galiza .

Do nosso ponto de vista o nacionalismo galego deveria ter em conta esses três pontos de tal forma que a discussão de se somos rabo de leão ou cabeça de rato seria absurdo. Pela nossa história, pela nossa língua e pelo futuro que se nos poderia abrir, estaríamos a jogar a ser cabeça de leão.


Artigo também publicado em Mundo Galiza


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